Postado em 11/01/2019
A mais antiga unidade do Sesc permanece desconhecida para muita gente. Será que é só porque mudou de nome? Fomos até lá para conhecer a sua história e ficar por dentro das novidades - e são muitas! Vem descobrir com a gente.
Antes, bem antes, eram tropeiros e bandeirantes que passavam por ali. A rua já era um dos principais caminhos de São Paulo, mas ainda estava longe de se tornar a Florêncio de Abreu que conhecemos hoje. Desde o século XVI, mudaram suas paisagens e seus nomes: chamou-se Caminho do Guaré, Caminho da Luz, Rua do Marechal, Rua da Figueira de São Bento, Rua da Constituição... Só em 1881 foi batizada com o nome do então presidente da Província, Florêncio Carlos de Abreu e Silva.
Mais ou menos nessa época é que foram chegando por lá as lojas de ferramentas e ferragens, que tanto a caracterizam. Tropeiros e bandeirantes deram lugar a gente de todo canto, em busca de itens tão diversos quanto canos de cobre, chuveiros, furadeiras, bóias de caixa d’água e compressores.
Recém criado, em 1946, o Sesc escolheu a rua de comércio pulsante para instalar suas atividades assistenciais, consultórios médicos e atendimento odontológico. No início, ocupou três andares do prédio assinado pelo arquiteto Rino Levi e viria a ocupar mais três na década seguinte, ampliando o atendimento odontológico.
A exemplo da rua, a unidade teve diversos nomes desde sua criação: foi Clínica de Serviços Especializados Gastão Vidigal, Centro Social Gastão Vidigal, Centro Assistencial... De 1985 a 2015, foi Sesc Odontologia, revelando no nome a dedicação exclusiva à saúde bucal.
O que pouca gente sabe é que, desde 2015, a unidade adotou o nome Sesc Florêncio de Abreu, marcando uma guinada em suas ações para além do serviço das clínicas odontológicas. Nos últimos anos, expandiu seu espaço, ocupou outros andares do prédio e passou a oferecer novas atividades – de apresentações de música a sessões de cinema, de oficinas de artes manuais a aulas de dança.
Se nas lojas de ferramentas da rua, o público masculino é maioria, nas oficinas do Sesc as mulheres é que põem a mão na massa.
Seja procurando uma peça para comprar, voltando da 25 de Março ou caminhando até o metrô e o mosteiro, quem sobe e desce pela rua já começou a perceber algumas diferenças. No fim de tarde, em meio ao falatório das lojas que se preparavam para fechar, um som intruso foi se instalando: notas de piano! No térreo, de frente para a calçada, Eva Gomyde estreava o projeto Piano Vespertino, que segue com apresentações abertas todas as quartas e sextas, no mesmo lugar. Por ali, teve quem parou para ouvir do início ao fim, quem espiou apressado, quem ficou curioso: “Tô passada! Nem sabia que tinha Sesc aqui!” – exclamou a moça olhando o banner da programação. Entre um número e outro, um rapaz grita para o colega do outro lado da rua: “Isso sim que é música, não aquilo lá que você escuta o dia todo!”. Outro senhor parece contrariado: “Queria forró!”. Atenta ao público, a pianista recebe e acata pedidos de canções, num repertório com muita MPB, bossa nova e choro.
Na loja em frente, os vendedores observam de longe. “É difícil participar, a gente fica aqui na correria, né”. Mas e depois do expediente?
“Ouvi dizer que vai ter academia. Aí sim! Quem sabe a gente vai lá se exercitar”.
Pois é, não é que a novidade se espalhou rápido pela rua? A partir de 14 de janeiro, começa uma nova fase na Florêncio de Abreu, com a abertura do espaço da GMF - Ginástica Multifuncional, e o início das atividades do Sesc Verão - tudo aberto a todas as pessoas e gratuito.
Você também pode ficar por dentro de toda a programação! Espia só: sescsp.org.br/florenciodeabreu
Uma unidade histórica certamente tem muitos causos para contar, muita gente para lembrar. Funcionária da Florêncio de Abreu há mais de 20 anos, a dentista Márcia Takahashi poderia receber o título de "história em pessoa". Não só pelo tempo de trabalho, mas porque Márcia já frequentava a unidade antes mesmo de nascer! Dentro da barriga da mãe, ela vinha até a Rua Florêncio de Abreu fazer o pré-natal, na época em que a unidade era o Centro Assistencial Gastão Vidigal.
A carteirinha da maternidade, de 1968, não nos deixa mentir:
Ainda bebê, ela frequentava a unidade para as consultas ao pediatra. Mais tarde, passava nas consultas odontológicas. Quando começou a atender na clínica como dentista, nem se deu conta que ali era o mesmo lugar da infância. Só foi ligar os pontos quando leu o endereço na carteirinha da maternidade.
Marcia Takahashi, atualmente supervisora da clínica, em um dos 20 consultórios odontológicos do Sesc Florêncio de Abreu. Repare na vista da janela: dá pra avistar o prédio colorido da Galeria Pajé.
Distraído ou apressado, é possível passar pela rua Florêncio de Abreu sem se dar conta de suas preciosidades arquitetônicas. Mas é só levantar o olhar para ver, acima das fachadas das lojas, casarões antigos e edifícios de diversas épocas e estilos, em diferentes estados de conservação. Recentemente, uma reforma recente conduzida pelo Sesc restaurou e revelou a beleza da fachada da unidade, que chama a atenção por suas colunas e amplas janelas.
Do lado de dentro, algumas curiosidades da estrutura se destacam. Assinado por Rino Levi, o prédio foi construído pela Cofermat pouco depois da 2a Guerra Mundial e possui um abrigo antiaéreo no subsolo, um reflexo do medo que havia na época de possíveis ataques.
Quem dispensar o elevador pode descobrir uma das joias da construção: a escada original em formato caracol que leva até o 11o andar:
Quer saber mais? Acompanhe em sescsp.org.br/florenciodeabreu
*Fonte das informações históricas da rua: Dicionário de Ruas de São Paulo