Postado em 19/12/2018
Descrição da Imagem (Foto de um homem cadeirante, com os dois braços abertos um para esquerda e outro para direita, em frente ao Teatro Solis)
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Viajar é uma daquelas experiências que, se fosse possível, faríamos muitas vezes ao ano. Poder conhecer novas paisagens, novas culturas e muitas vezes nos encontrarmos, refletir sobre o que somos, através da inspiração de novos lugares. Quando o roteiro é internacional, o frio na barriga é ainda maior. Apesar da internet conter muitas informações sobre outros países e suas culturas, vivenciá-la ao vivo, com sua culinária, costumes, língua, é algo que nos faz sair da zona de conforto. E entrar em contato com o novo sempre gera certa ansiedade. Agora imagina se você for um cadeirante, viajando sozinho para outro pais? Jeff trabalha no Sesc. Você pode encontrá-lo na Central de Atendimento do Sesc São José dos Campos. É cadeirante há 19 anos, devido a uma queda acidental em um poço de elevador. "O processo [de adaptação pós-acidente] foi muito bom, tenho família, tenho amigos e primos que me ajudaram muito no começo, que é barra. Foi na AACD em SP onde aprendi tudo: passar da cama para cadeira, usar cadeira de rodas no dia a dia", relata. Hoje, Jeff tem muita autonomia - mora sozinho e além de cuidar de si mesmo, é responsável por Frida, Chico, Felini, Lino e Nina, cinco gatos de quem é tutor. Antes do acidente, Jeff já era um viajante, mas só havia visitado lugares próximos ao estado de São Paulo, como o sul do Brasil. "A viagem mais longe que tinha feito foi para Santa Catarina. Mas em 2014 [já cadeirante] viajei para o Uruguai. Fui na cara e coragem mesmo. Era antes da copa do mundo, e fui no frio ainda!". Com muito bom humor, Jeff nos contou sobre sua aventura no Uruguai. A escolha por Montevidéu, a capital e a maior cidade do país, teve como principal critério a sociedade uruguaia. "Eu escolhi por conta de algumas mudanças sociais no pais, para conhecer a cultura e a cabeça da população de lá". Mesmo com muita preparação - ele pesquisou antecipadamente na internet os locais de passeio e hospedagem, surgiram surpresas. "Já começou quando andei de avião, que foi a minha primeira vez. Ele era muito pequeno, não tinha acessibilidade alguma. Eles tinham que me pegar no colo para colocar na poltrona nas primeiras filas. Para ir ao banheiro tinha que sentar em uma cadeira estreita. No caso, fui preparado para não usar banheiro do avião. Eu penei para caramba! As empresas de avião e ônibus de viagem não são preparados, mesmo os ônibus que têm o símbolo de acessível". Após aproximadamente duas horas e meia de viagem, na poltrona apertada, ele finalmente chegou a seu destino. Jeff optou por um hostel, reservado online. "Olhei na internet, mas fui na cara e coragem. Chegando lá que a gente tem a realidade. Eu não recusava ajuda. Eu tinha a opção de ficar em um hotel adaptado, mas é muito mais caro, e além disso você não convive com a cultura local", justifica. Segundo relatos de nosso viajante, apesar de haver informações de que o local era adaptado, a acessibilidade não era tão acessível assim - o banheiro coletivo, por exemplo, tinha um degrau para chegar ao o box e apenas uma rampinha de acesso para chegar ao quarto. Curtindo a brisa do Rio de La Plata Descrição da Imagem (Foto selfie de um homem, ele está sorrindo apontando para trás. Ao fundo, há um muro e depois o mar.) Ainda assim, a viagem foi tão incrível que Jeff voltou a Montevidéu em 2017, para sua segunda visita. Desta vez, com planos de vivenciar ainda mais a rotina da população local. Assim, ele se hospedou na casa de um morador da cidade, reservada pela internet. "Quando cheguei lá pensei, 'Meu Deus, o que eu tô fazendo aqui?". A casa em questão praticamente não tinha acessibilidade, e ele teve sorte de sua cadeira passar certinho na porta. Já a cidade em si não foi muito diferente. "Foi difícil em Montevidéu, como é uma cidade antiga, não tem quase nada de acessibilidade". Entretanto, o local tinha uma peculiaridade: Era localizado em uma rua adaptada para cegos, ainda que em apenas um trecho - que conduzia até o parque. Apesar de haver certa preocupação com a acessibilidade urbana, havia também a barreira cultural em relação a pessoas com deficiência. "As pessoas [uruguaias] ficavam olhando para mim, falavam para tomar cuidado. O pessoal de lá não é acostumado com cadeirante na rua". Para chegar em locais turísticos, Jeff contou com o transporte público. Lá também existem ônibus adaptados, mas, segundo Jeff, são poucos, somente em alguns horários e linhas. Além disso, os cuidados com a pessoa com deficiência são diferentes: "Aqui em São José dos Campos, o motorista não anda sem que eu esteja com o cinto afivelado. Já no Uruguai não tem nada. O motorista me perguntou se a minha cadeira tinha freio. Ainda bem que tinha (risos). Andei de ônibus como todo mundo lá andava". De modo geral, a viagem foi ótima, e marcou Jeff com muitas coisas boas. "Eu aprendi o castelhano; a culinária, comi muito churrasco, que são muito diferentes dos nossos; os museus que visitei são diferentes do Brasil, nos quais muitas vezes você tem pagar para entrar". No Uruguai a maioria dos museus possuem entrada gratuita. Entre as duas viagens, em 2014 e 2017, Jeff encontrou algumas adaptações em acessibilidade. Tímidas, mas estão sendo implementadas. Estas mudanças são fundamentais para que pessoas com deficiência possam vivenciar experiências como esta, com tranquilidade, conforto e autonomia. Os próximos destinos do nosso viajante serão no Brasil. Um dos destinos em que ele tem mais curiosidade é o Nordeste. Segundo Jeff, para começar a viajar é necessário "sair de casa, dar as caras. Tem que sair da sua zona de conforto". E aí, qual será o seu destino? Confira algumas dicas para viajar: • GRATUIDADE EM PASSAGENS INTERESTADUAIS Pessoas com deficiência têm direito à passagem mediante um cadastro prévio. Informe-se com antecedência junto às companhias de seu interesse sobre os trâmites necessários. • ATENÇÃO PARA VOAR Vai de avião? Pelo relato do Jeff, as companhia aéreas ainda não estão tão preparadas para receber a todos sem distinção. Antes de comprar as passagens, informe-se sobre as possibilidades de se alocar em um lugar mais acessível, confortável e com assistência. • HOSPEDAGEM SEM BARREIRAS É importante buscar um local que atenda às suas necessidades minimamente. Informe-se sobre o local de estadia e confirme se há espaço suficiente para a passagem do seu dispositivo de acessibilidade. Confirmar estes detalhes antes de viajar vai evitar surpresas e possibilitar uma hospedagem tranquila e com a maior autonomia possível. • ROTEIRO ACESSÍVEL Para qualquer viajante, é recomendável um roteiro de visita bem estruturado, para aproveitar o local ao máximo. Será que o museu tem elevadores para os andares da exposição? • LINHAS E HORÁRIOS Para organizar e aproveitar melhor o tempo, é interessante planejar com antecedência como será o seu deslocamento pela cidade. Pesquise nos sites das companhias de transporte os horários e linhas adaptadas.
Viajar é uma daquelas experiências que, se fosse possível, faríamos muitas vezes ao ano. Poder conhecer novas paisagens, novas culturas e muitas vezes nos encontrarmos, refletir sobre o que somos, através da inspiração de novos lugares.
Quando o roteiro é internacional, o frio na barriga é ainda maior. Apesar da internet conter muitas informações sobre outros países e suas culturas, vivenciá-la ao vivo, com sua culinária, costumes, língua, é algo que nos faz sair da zona de conforto. E entrar em contato com o novo sempre gera certa ansiedade. Agora imagina se você for um cadeirante, viajando sozinho para outro pais?
Jeff trabalha no Sesc. Você pode encontrá-lo na Central de Atendimento do Sesc São José dos Campos. É cadeirante há 19 anos, devido a uma queda acidental em um poço de elevador. "O processo [de adaptação pós-acidente] foi muito bom, tenho família, tenho amigos e primos que me ajudaram muito no começo, que é barra. Foi na AACD em SP onde aprendi tudo: passar da cama para cadeira, usar cadeira de rodas no dia a dia", relata. Hoje, Jeff tem muita autonomia - mora sozinho e além de cuidar de si mesmo, é responsável por Frida, Chico, Felini, Lino e Nina, cinco gatos de quem é tutor.
Antes do acidente, Jeff já era um viajante, mas só havia visitado lugares próximos ao estado de São Paulo, como o sul do Brasil. "A viagem mais longe que tinha feito foi para Santa Catarina. Mas em 2014 [já cadeirante] viajei para o Uruguai. Fui na cara e coragem mesmo. Era antes da copa do mundo, e fui no frio ainda!".
Com muito bom humor, Jeff nos contou sobre sua aventura no Uruguai. A escolha por Montevidéu, a capital e a maior cidade do país, teve como principal critério a sociedade uruguaia. "Eu escolhi por conta de algumas mudanças sociais no pais, para conhecer a cultura e a cabeça da população de lá".
Mesmo com muita preparação - ele pesquisou antecipadamente na internet os locais de passeio e hospedagem, surgiram surpresas. "Já começou quando andei de avião, que foi a minha primeira vez. Ele era muito pequeno, não tinha acessibilidade alguma. Eles tinham que me pegar no colo para colocar na poltrona nas primeiras filas. Para ir ao banheiro tinha que sentar em uma cadeira estreita. No caso, fui preparado para não usar banheiro do avião. Eu penei para caramba! As empresas de avião e ônibus de viagem não são preparados, mesmo os ônibus que têm o símbolo de acessível".
Após aproximadamente duas horas e meia de viagem, na poltrona apertada, ele finalmente chegou a seu destino. Jeff optou por um hostel, reservado online. "Olhei na internet, mas fui na cara e coragem. Chegando lá que a gente tem a realidade. Eu não recusava ajuda. Eu tinha a opção de ficar em um hotel adaptado, mas é muito mais caro, e além disso você não convive com a cultura local", justifica. Segundo relatos de nosso viajante, apesar de haver informações de que o local era adaptado, a acessibilidade não era tão acessível assim - o banheiro coletivo, por exemplo, tinha um degrau para chegar ao o box e apenas uma rampinha de acesso para chegar ao quarto.
Curtindo a brisa do Rio de La Plata
Descrição da Imagem (Foto selfie de um homem, ele está sorrindo apontando para trás. Ao fundo, há um muro e depois o mar.)
Ainda assim, a viagem foi tão incrível que Jeff voltou a Montevidéu em 2017, para sua segunda visita. Desta vez, com planos de vivenciar ainda mais a rotina da população local. Assim, ele se hospedou na casa de um morador da cidade, reservada pela internet. "Quando cheguei lá pensei, 'Meu Deus, o que eu tô fazendo aqui?". A casa em questão praticamente não tinha acessibilidade, e ele teve sorte de sua cadeira passar certinho na porta. Já a cidade em si não foi muito diferente. "Foi difícil em Montevidéu, como é uma cidade antiga, não tem quase nada de acessibilidade". Entretanto, o local tinha uma peculiaridade: Era localizado em uma rua adaptada para cegos, ainda que em apenas um trecho - que conduzia até o parque. Apesar de haver certa preocupação com a acessibilidade urbana, havia também a barreira cultural em relação a pessoas com deficiência. "As pessoas [uruguaias] ficavam olhando para mim, falavam para tomar cuidado. O pessoal de lá não é acostumado com cadeirante na rua".
Para chegar em locais turísticos, Jeff contou com o transporte público. Lá também existem ônibus adaptados, mas, segundo Jeff, são poucos, somente em alguns horários e linhas. Além disso, os cuidados com a pessoa com deficiência são diferentes: "Aqui em São José dos Campos, o motorista não anda sem que eu esteja com o cinto afivelado. Já no Uruguai não tem nada. O motorista me perguntou se a minha cadeira tinha freio. Ainda bem que tinha (risos). Andei de ônibus como todo mundo lá andava".
De modo geral, a viagem foi ótima, e marcou Jeff com muitas coisas boas. "Eu aprendi o castelhano; a culinária, comi muito churrasco, que são muito diferentes dos nossos; os museus que visitei são diferentes do Brasil, nos quais muitas vezes você tem pagar para entrar". No Uruguai a maioria dos museus possuem entrada gratuita.
Entre as duas viagens, em 2014 e 2017, Jeff encontrou algumas adaptações em acessibilidade. Tímidas, mas estão sendo implementadas. Estas mudanças são fundamentais para que pessoas com deficiência possam vivenciar experiências como esta, com tranquilidade, conforto e autonomia.
Os próximos destinos do nosso viajante serão no Brasil. Um dos destinos em que ele tem mais curiosidade é o Nordeste. Segundo Jeff, para começar a viajar é necessário "sair de casa, dar as caras. Tem que sair da sua zona de conforto". E aí, qual será o seu destino?
Confira algumas dicas para viajar:
• GRATUIDADE EM PASSAGENS INTERESTADUAIS Pessoas com deficiência têm direito à passagem mediante um cadastro prévio. Informe-se com antecedência junto às companhias de seu interesse sobre os trâmites necessários.
• ATENÇÃO PARA VOAR Vai de avião? Pelo relato do Jeff, as companhia aéreas ainda não estão tão preparadas para receber a todos sem distinção. Antes de comprar as passagens, informe-se sobre as possibilidades de se alocar em um lugar mais acessível, confortável e com assistência.
• HOSPEDAGEM SEM BARREIRAS É importante buscar um local que atenda às suas necessidades minimamente. Informe-se sobre o local de estadia e confirme se há espaço suficiente para a passagem do seu dispositivo de acessibilidade. Confirmar estes detalhes antes de viajar vai evitar surpresas e possibilitar uma hospedagem tranquila e com a maior autonomia possível.
• ROTEIRO ACESSÍVEL Para qualquer viajante, é recomendável um roteiro de visita bem estruturado, para aproveitar o local ao máximo. Será que o museu tem elevadores para os andares da exposição?
• LINHAS E HORÁRIOS Para organizar e aproveitar melhor o tempo, é interessante planejar com antecedência como será o seu deslocamento pela cidade. Pesquise nos sites das companhias de transporte os horários e linhas adaptadas.
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