Postado em 21/12/2018
Artista e documentarista faz da vida uma performance sobre causas políticas e humanitárias
Ai Weiwei é o avesso da imagem de bonachão que projeta nas redes sociais. Famoso por postar selfies com artistas e anônimos, o artista chinês é, na verdade, um homem reservado. Não é dado a frases extensas ou a elucubrações sobre seu trabalho, que escancara mazelas sociais no âmbito das artes plásticas, da produção audiovisual e literária – a exemplo de Humanity (Princeton University Press, 2018), um pequeno livro azul de citações do artista, extraídas de entrevistas.
De maneira geral, suas obras desafiam o status quo da sociedade oriental e ocidental. Em Dropping a Han Dynasty Ur (Deixando Cair uma Urna da Dinastia Han), Weiwei deixa-se fotografar derrubando intencionalmente uma urna da Dinastia Han, de mais de dois mil anos. Outras obras que ficaram conhecidas são as instalações Sunflower Seeds (Sementes de Girassol) e Forever Bicycles (Bicicletas Forever), criações expostas nos mais importantes museus e parques do mundo e que no Brasil aportaram, pela primeira vez, em outubro passado (veja o boxe Exposição Ai Weiwei - Raiz). Na ocasião, Weiwei participou de um bate-papo sobre arte contemporânea com o artista italiano Michelangelo Pistoletto, mediado pelo curador Marcello Dantas, no Sesc Pinheiros.
Além das obras em exposição, o artista repercute questões humanitárias no cinema, caso da mais recente produção, Human Flow – Não Existe Lar Se Não Há Para Onde Ir (2017), exibida na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. No filme, Weiwei acompanha o dia a dia de refugiados na Turquia, no Líbano, no Paquistão, na Faixa de Gaza e em outros lugares. Um documentário sobre a vida de refugiados, também motivado por experiências pessoais. O artista passou a infância e a adolescência em um campo de exilados na Ásia após a prisão do pai, o poeta Ai Qing, pelo governo chinês.
Em entrevista à Revista E, durante sua passagem pelo Brasil, Ai Weiwei provoca com suas impressões sobre arte, público e futuro.
Exposição x documentário x Instagram
Eu sempre coloco todos esses trabalhos como um só. Exposições e outras atividades como produção audiovisual, debates em público, conversas na mídia... Isso tudo só funciona como uma coisa só, entende? Para mim, é uma ação integral. Não consigo separar.
Trabalho humano
Me considero um ser humano. Se um artista é um ser humano, então, também pode me chamar de artista. Mas eu sou apenas um ser humano.
Arte irrelevante
Em geral, quando vemos arte tentamos separá-la da vida real. Há gente que ainda tem como fixo o mesmo argumento [do que é arte] de 200 ou 50 anos atrás, o que não é relevante. Ao mesmo tempo que nós estamos criando arte, a arte está nos criando. Então, se a arte não está viva, ela é uma arte morta e por isso não é relevante.
Interação com o público
Eu não me importo. Minha arte é para mim, e se alguém gostar, eu agradeço. Mas se não gostarem, realmente não me importo.
Sobre o futuro
Eu realmente não sei se teremos um futuro. Claro que nós sabemos que temos um passado, mas não sei se temos um futuro. Porque nos odiamos, nos separamos uns dos outros, temos ideias malucas, muitas ideias nazistas, não nos importamos com as tragédias dos outros, não nos importamos com as injustiças sociais. Por que, então, deveríamos ter um futuro?
Visitação: até 20/1, de terça a sábado, das 11h às 20h.
Domingos e feriados, das 11h às 19h (fechado no dia 1º/1)
Local: Oca, Parque Ibirapuera, São Paulo – SP
Ingressos: R$ 20 e R$ 10