Postado em 29/11/2018
As informações que circulam
no ambiente digital pairam sobre
a nossa cabeça e sob nossos pés
Imagem: Pixabay
Em casa, no escritório, nas ruas ou na estação de metrô, respondemos a e-mails, enviamos fotos e combinamos uma sessão de cinema pelo celular. Atividades que se tornaram cada vez mais comuns com o avanço do acesso à internet. Entre 2005 e 2015, o número de lares conectados no Brasil saltou de 7,2 milhões para 39,3 milhões, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste ano. Mesmo diante desse expressivo cenário de conexões e compartilhamentos, pouco se sabe sobre como acontece essa transmissão de dados. Ou o que são e onde estão as famosas “nuvens” que armazenam desde fotos do seu bicho de estimação até os arquivos digitalizados da chegada do homem à Lua.
Diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, Demi Getschko, cientista da computação considerado um dos pioneiros da internet no Brasil, alerta: “Obviamente, você não usa um buscador na internet de graça. Uma rede social custa zilhões de máquinas, cabos e banda conectada. Então, certamente, você faz parte da estrutura desse negócio e isso não deveria surpreender ninguém”. No entanto, todo o funcionamento desse cenário ainda nos deixa admirados.
Guardar arquivos, games ou aplicativos na nuvem é o mesmo que armazená-los no computador da sua casa, em um pendrive ou DVD. A grande diferença é que esse ambiente, sobre o qual falamos tanto, não é nada etéreo. Ele, inclusive, tem um endereço fixo. Quer dizer, o conteúdo que você armazena na nuvem, de forma gratuita ou paga, é abrigado por um servidor que, por sua vez, está localizado em um data center. E os data centers são prédios em diversos países, que protegem todas essas informações com segurança digital e física.
Se hoje áudios, fotos e vídeos são guardados nas nuvens, seu compartilhamento se dá quase de maneira instantânea, graças, majoritariamente, a cabos submarinos. São eles os responsáveis pelas comunicações transoceânicas feitas no globo. Com uma capacidade de tráfego de dados mil vezes maior que a dos satélites, esses cabos saem dos continentes para serem enterrados a profundidades de até oito quilômetros. Ou seja, lá no fundo do mar nadam, em redes de fibra ótica, bate-papos pelo WhatsApp, fotos das suas últimas férias e o novo hit musical do verão.
No Brasil, é da capital cearense, mais especificamente da Praia do Futuro, que desponta a maior parte dos cabos submarinos de fibra óptica. Dessa forma, parte de Fortaleza a conexão do país com as Américas do Norte e Central, Europa e África. Denominada South Atlantic Cables System (Sacs), a mais recente instalação de cabo submarino ocorreu no início de 2018, ligando o país a Angola.
Mas por que essas informações parecem estar tão longe do nosso dia a dia e ainda nos surpreender? Para os artistas e pesquisadores Cláudio Bueno e Ligia Nobre ainda ignoramos esse cenário porque, se fôssemos indagar sobre todas as questões do mundo, ficaríamos loucos, numa referência à obra A Vida do Espírito, da filósofa alemã Hannah Arendt.
“Mas há algumas delas que ganham tamanha proporção – como o uso de aparelhos celulares e demais dispositivos eletrônicos e digitais –, que reorganizam modos de vida, de trabalho e outras dimensões da nossa existência”, observa Cláudio. “Por isso é impossível não refletir sobre temas como: as toneladas de lixo eletrônico despejadas em Agbogbloshie, em Gana; a soberania dos dados brasileiros que trafegam fisicamente em territórios como os Estados Unidos; o uso de bens naturais como carvão, água e petróleo para a geração de energia e refrigeração de data centers etc.”, complementa Ligia.
Junto a Carol Tonetti e Vitor Cesar, Cláudio e Ligia compõem o Grupo Inteiro, que desde 2014 reúne profissionais de diferentes formações e práticas em arquitetura, design, arte, comunicação, aprendizagem e tecnologia. “O grupo tem se dedicado às noções de convivência como ‘campos de invisibilidade’ presentes nas relações e nos espaços, incluindo as tecnologias digitais”, explica Cláudio, que assina com Ligia a curadoria da exposição Campos de Invisibilidade (leia o boxe Fora do campo de visão), em que esse cenário é desvelado e discutido no âmbito das artes. “Precisamos considerar que as tecnologias possuem implicações físicas muito concretas. Precisamos aceitar, investigar e considerar que há mundos operando para além daquilo que podemos enxergar dentro de grandes capitais como São Paulo”, finaliza Ligia.
Fonte: TeleGeography
Fonte: Global E-waste Monitor 2017, relatório internacional elaborado pela Universidade das Nações Unidas