Postado em 29/11/2018
Reinventar-se e cuidar de si são fundamentais para conquistar longevidade a partir de já
Foto: Leila Fugii
Ouça a reportagem sobre envelhecer bem A poeta e doceira Cora Coralina publicou o primeiro livro aos 75 anos de idade, em 1965. Um período em que a expectativa de vida no país era de 56 anos. Contrariando as estatísticas e, principalmente, a ideia de que velhice é sinônimo de estagnação, a poeta cujos versos inspiraram o recém-lançado longa-metragem O Colar de Coralina, de Reginaldo Gontijo, ainda é referência para todas as idades. Para Cora, sempre haverá uma brecha de tempo para se reinventar. Meio século depois da publicação que colocou a escritora goiana no mapa da literatura mundial, a expectativa de vida saltou para os 75 anos. E a tendência é que esse galopar siga nas próximas décadas. Mas será que a longevidade será para todos? Segundo previsão feita pelo Banco Mundial, em 2050 haverá mais de dois bilhões de pessoas no mundo com mais de 60 anos. E o aumento no número de idosos acima dos 80 também será expressivo. Mas como se preparar para a velhice? E aos mais velhos a pergunta é: de que forma usufruir dessa fase da vida? Para o pesquisador e médico Alexandre Kalache, que dirigiu por 14 anos o Programa Global de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), começa na juventude o compromisso de acumular “quatro capitais”: Capital Vital (cuidar da saúde); Capital de Conhecimento (aprender coisas novas); Capital Social (manter boas relações); e Capital Financeiro (ter um pé-de-meia). Ou seja, ter uma alimentação equilibrada, fazer atividades físicas regularmente, aprender um novo ofício, ensinar algo a outra pessoa e cativar bons relacionamentos são apenas alguns exemplos de como trabalhar para estender nossa vida por mais tempo e, principalmente, com mais qualidade (leia o boxe O que te move?). Para isso, também é preciso perder o medo e fantasias em relação ao envelhecer, segundo a psicóloga Valmari Cristina Aranha, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. “Precisamos conceber que haverá perdas e ganhos, mas que essa é uma etapa que pode ser construída de maneira saudável. Envelhecer também traz muita liberdade e capacidade de escolha. A nossa história segue. A diferença é o uso que vou fazer desse tempo. Como organizar a minha vida para fazer minhas atividades num ritmo diferente, cuidar melhor do meu corpo e dos sinais que ele me oferece”, orienta a especialista. “A minha satisfação não precisa estar ligada a ter ou não ter rugas. Se eu souber me adaptar e me reinventar, posso viver mesmo com essas mudanças de maneira satisfatória.” Outras vivências e trocas Conhecimento, experiência e inteligência emocional são alguns dos atributos no currículo de homens e mulheres que desejam voltar ao mercado de trabalho ou mesmo empreender em uma nova área passados os 60 anos de vida. Outros até sonham a respeito, mas têm receio de encontrar portas fechadas e enfrentar preconceito. Esse obstáculo é um dos desafios encarados pelo Lab 60+, um grande laboratório criado em 2014 pelo empreendedor social Sérgio Serapião, que abre espaço para pessoas e organizações se desenvolverem e se conectarem. “Todos vivemos esse paradigma de que começamos a ficar invisíveis a partir dos 50 porque vivemos uma cultura ‘jovencêntrica’”, observa Serapião. “Nesse cenário, os jovens podem entender suas potências e limitações e ter a consciência de que uma pessoa mais velha também pode contribuir.” Desse espaço de troca criado pelo laboratório, surgiram iniciativas que vão desde encontros mensais em São Paulo e outras cidades até o Festival de Longevidade, que anualmente reúne diversas iniciativas sobre o tema. Em outubro passado, a quinta edição foi realizada no Sesc Itaquera, com vivências, oficinas, apresentações artísticas e bate-papos sobre empreendedorismo, moradia, cuidado, finitude, trabalho, bem-estar, cultura, esporte e tecnologia. “A gente tem como exemplo vários projetos de pessoas que se descobriram empreendedoras a partir dos 50, 60, 70 anos. E jovens que descobriram estar conectados à longevidade e colocaram à disposição conhecimento em tecnologia, por exemplo, ao mesmo tempo que ganharam maturidade emocional, algo mais comum em idosos”, complementa Serapião. “São essas conexões que a gente busca fazer. Isso acontece quando colocamos seniores em escolas para serem mentores educacionais, ajudando, inclusive a diminuir a evasão escolar.” Devagar e sempre Além dos cuidados com a saúde, novos aprendizados e mesmo uma nova carreira, estão as relações sociais como importantes aliadas de uma vida longa e prazerosa. Em grandes cidades, no entanto, a dificuldade de locomoção ou a falta de equipamentos culturais podem ser grandes desafios, como aponta o médico patologista e pesquisador Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP). “Dados de um estudo feito em Londres associam o metrô à expectativa de vida: no centro da cidade, a expectativa é de 90 anos, mas você perde um ano de vida a cada duas estações rumo à periferia”, relata. “Em São Paulo esse número é de seis anos. Por isso, acredito que exista uma dimensão oculta de qualidade de vida e de saúde dentro de uma visão ecossistêmica do que é uma cidade. Se você não souber manter ou recriar relações afetivas sociais, por exemplo, você está perdido.” Sendo assim, é no dia a dia que aprendemos a colocar na balança de que forma nos cuidamos e convivemos. Afinal de contas, não se trata apenas de chegar à velhice, mas de viver mais tempo da melhor maneira possível. “Seja afetivamente, profissionalmente, fazendo viagens, passeios ou numa atividade prazerosa que nesse momento da vida pode acontecer sem a necessidade financeira”, acrescenta a psicóloga Valmari Aranha. “É importante usar esse período para resgatar desejos, perspectivas e sonhos que foram relegados a segundo plano. Não existe mais ‘isso é coisa de velho’ ou ‘isso não é para minha idade’. O que vai fazer a diferença é a condição em que cada um de nós se encontra, muito mais do que qualquer faixa etária.” Foto: Leila Fugii O que te move? DANÇAR, FOTOGRAFAR, PLANTAR OU DOMINAR NOVAS TECNOLOGIAS PODE RESSIGNIFICAR A VIDA DE HOMENS E MULHERES ACIMA DOS 60 Três mulheres, três histórias, três mudanças. Maria de Lurdes, Eunira e Maria Benedita, de aproximadamente 70 anos, começaram a usar a internet e descobriram outros mundos possíveis. Participantes da atividade Alfabytezando, no Sesc Taubaté, voltada para o público idoso, elas aprenderam e colocaram em prática conhecimentos sobre fotografia digital, redes sociais, aplicativos e outras ferramentas que antes pareciam um bicho de sete cabeças. Juntas, protagonizam 3 Mulheres de Antenas, vídeo produzido para a programação As Mulheres e as Tecnologias, realizada neste ano no Espaço de Tecnologias e Artes (ETA) do Sesc Taubaté. A exemplo da letra da canção de Chico Buarque que inspira o nome do documentário, mirar-se no exemplo dessas mulheres só reforça a ideia de que nunca é tarde para se reinventar. Afinal de contas, teremos, dentro de três décadas, mais idosos que crianças e jovens no Brasil. “Assim, esse público com 60 anos ou mais transformará várias esferas da sociedade como: a ampliação de políticas públicas para a velhice, aumento do mercado de trabalho, empreendedorismo, relações sociais, e a busca por diversas atividades relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida”, observa Alessandra Nascimento, assistente técnica da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc e doutoranda em Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Visando a esse segmento da população, em 1963 foi criado pelo Sesc São Paulo o Trabalho Social com Idosos. Um programa que, em sua trajetória, oferece atividades socioculturais, educativas e esportivas que acompanham a contemporaneidade, pensando nessa fase da vida e ampliando reflexões quanto ao significado de envelhecer. Atualmente, 41,6% dos matriculados nas atividades regulares de esportes do Sesc São Paulo correspondem a pessoas acima de 60 anos. “A cultura do envelhecimento precisa estar no foco de vários diálogos, além de se tornar uma política a ser reconhecida e fortalecida, na qual os idosos não deixarão de ser protagonistas. Nesse sentido, as ações do Sesc fomentam esse cenário e a eminência do assunto”, complementa Alessandra. Confira algumas atividades que são destaque da programação de dezembro: SESC BOM RETIRO Praticando na Internet: Redes Sociais, E-mail e Pen Drive (de 5 a 13/12) Nesta oficina será possível criar conteúdos e integrar-se ao mundo digital por meio do acesso às redes sociais, suas particularidades e finalidades. Os participantes também aprenderão a enviar e receber e-mails com anexos, além de fazer uso de uma máquina fotográfica e de um pendrive para fazer upload de conteúdos nas redes sociais ou num e-mail. SESC ITAQUERA Léo Maia – Tributo a Tim Maia (dia 6/12) Filho de Tim Maia, o cantor Léo Maia faz releituras de canções eternizadas na voz inesquecível do pai. No repertório, Azul da Cor do Mar, Gostava Tanto de Você, Não Quero Dinheiro, Primavera, entre outras que embalaram gerações. Além disso, o artista vai contar histórias da família que há mais de meio século anima bailes no país. Foto: Divulgação SESC BELENZINHO Fazendo vídeos para aprender e ensinar (dias 14 e 21/12) Nessa atividade ministrada pelo designer e especialista em EAD Arlindo Alves, os participantes entrarão em contato com os princípios básicos para a utilização de recursos de vídeo em tablets e celulares. O objetivo é explorar novas formas de criação e expressão, bem como ampliar possibilidades de acesso, compartilhamento de memórias e experiências de vida. Foto: Pexels SESC POMPEIA Kokedama: ornamentos em musgo (até 19/12) A kokedama (“bola de musgo”, em japonês) pode ser aplicada em qualquer outra espécie de planta. Por isso, nessa oficina ministrada pela florista Carol Ikeda os participantes irão transpor uma planta de seu vaso inicial para a bola de musgo criada por eles. Ao final, poderão escolher a forma de disposição da kokedama: suspensa ou sobre algum suporte. Foto: La Florida Studio SESC IPIRANGA Jogos Teatrais & A Memória do Que Não Fiz Como Presente (até 19/12) Tendo como base uma pesquisa sobre memórias de arrependimentos e a linguagem do palhaço como ferramenta de subversão, nessa oficina a pergunta “e se tivéssemos feito diferente?” é o ponto de partida. Ministrado por Bárbara Salomé, o curso parte do uso da memória dos participantes como material cênico. Para inspirar FILMES, LIVROS E ESPETÁCULOS TEATRAIS PODEM SER BOAS FONTES PARA REFLEXÃO SOBRE TEMAS IMPORTANTES E RELACIONADOS À VELHICE CINEMA Candelaria (2018) Lançado neste ano, o longa-metragem de Jhonny Hendrix Hinestroza se passa em Havana, 1994. Nessa época, chega ao fim a Guerra Fria, no entanto o embargo a Cuba continua intacto. Neste cenário, a vida do casal Candelaria, 75 anos, e Victor Hugo, 76, está cada vez mais triste. Até que eles encontram uma câmera e, curiosos, passam a filmar o dia a dia, dando um novo significado ao relacionamento. LIVRO Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, de Cora Coralina (Global Editora, 2015) Publicado em 1965, este foi o livro de estreia de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, também conhecida como Cora Coralina. A partir daquele momento, o público sentiu a alta tensão poética da escritora, que fez do verso uma chave para que seus leitores abrissem as portas da cidade histórica de Goiás Velho. Em 1985, ela faleceu aos 95 anos de idade. Após sua morte, amigos e parentes criaram a Associação Casa de Cora Coralina, mantenedora do Museu Casa de Cora Coralina (Saiba mais em: www.museucoracoralina.com.br). TEATRO Num Lago Dourado Inspirado no longa homônimo de 1981, o espetáculo teatral fala sobre o amor na velhice e a relação entre pais e filhos. Na trama, um professor aposentado, prestes a completar 80 anos, interpretado por Ary Fontoura, passa as férias de verão com a esposa. Juntam-se a eles, na mesma casa, a filha acompanhada do futuro marido e do enteado. A peça fica em cartaz no Teatro Novo, no bairro da Vila Mariana, na capital paulista, até 16 de dezembro. @revistae | @instagram
Ouça a reportagem sobre envelhecer bem
A poeta e doceira Cora Coralina publicou o primeiro livro aos 75 anos de idade, em 1965. Um período em que a expectativa de vida no país era de 56 anos. Contrariando as estatísticas e, principalmente, a ideia de que velhice é sinônimo de estagnação, a poeta cujos versos inspiraram o recém-lançado longa-metragem O Colar de Coralina, de Reginaldo Gontijo, ainda é referência para todas as idades. Para Cora, sempre haverá uma brecha de tempo para se reinventar. Meio século depois da publicação que colocou a escritora goiana no mapa da literatura mundial, a expectativa de vida saltou para os 75 anos. E a tendência é que esse galopar siga nas próximas décadas. Mas será que a longevidade será para todos?
Segundo previsão feita pelo Banco Mundial, em 2050 haverá mais de dois bilhões de pessoas no mundo com mais de 60 anos. E o aumento no número de idosos acima dos 80 também será expressivo. Mas como se preparar para a velhice? E aos mais velhos a pergunta é: de que forma usufruir dessa fase da vida? Para o pesquisador e médico Alexandre Kalache, que dirigiu por 14 anos o Programa Global de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), começa na juventude o compromisso de acumular “quatro capitais”: Capital Vital (cuidar da saúde); Capital de Conhecimento (aprender coisas novas); Capital Social (manter boas relações); e Capital Financeiro (ter um pé-de-meia).
Ou seja, ter uma alimentação equilibrada, fazer atividades físicas regularmente, aprender um novo ofício, ensinar algo a outra pessoa e cativar bons relacionamentos são apenas alguns exemplos de como trabalhar para estender nossa vida por mais tempo e, principalmente, com mais qualidade (leia o boxe O que te move?). Para isso, também é preciso perder o medo e fantasias em relação ao envelhecer, segundo a psicóloga Valmari Cristina Aranha, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. “Precisamos conceber que haverá perdas e ganhos, mas que essa é uma etapa que pode ser construída de maneira saudável. Envelhecer também traz muita liberdade e capacidade de escolha. A nossa história segue.
A diferença é o uso que vou fazer desse tempo. Como organizar a minha vida para fazer minhas atividades num ritmo diferente, cuidar melhor do meu corpo e dos sinais que ele me oferece”, orienta a especialista. “A minha satisfação não precisa estar ligada a ter ou não ter rugas. Se eu souber me adaptar e me reinventar, posso viver mesmo com essas mudanças de maneira satisfatória.”
Conhecimento, experiência e inteligência emocional são alguns dos atributos no currículo de homens e mulheres que desejam voltar ao mercado de trabalho ou mesmo empreender em uma nova área passados os 60 anos de vida. Outros até sonham a respeito, mas têm receio de encontrar portas fechadas e enfrentar preconceito. Esse obstáculo é um dos desafios encarados pelo Lab 60+, um grande laboratório criado em 2014 pelo empreendedor social Sérgio Serapião, que abre espaço para pessoas e organizações se desenvolverem e se conectarem. “Todos vivemos esse paradigma de que começamos a ficar invisíveis a partir dos 50 porque vivemos uma cultura ‘jovencêntrica’”, observa Serapião. “Nesse cenário, os jovens podem entender suas potências e limitações e ter a consciência de que uma pessoa mais velha também pode contribuir.”
Desse espaço de troca criado pelo laboratório, surgiram iniciativas que vão desde encontros mensais em São Paulo e outras cidades até o Festival de Longevidade, que anualmente reúne diversas iniciativas sobre o tema. Em outubro passado, a quinta edição foi realizada no Sesc Itaquera, com vivências, oficinas, apresentações artísticas e bate-papos sobre empreendedorismo, moradia, cuidado, finitude, trabalho, bem-estar, cultura, esporte e tecnologia.
“A gente tem como exemplo vários projetos de pessoas que se descobriram empreendedoras a partir dos 50, 60, 70 anos. E jovens que descobriram estar conectados à longevidade e colocaram à disposição conhecimento em tecnologia, por exemplo, ao mesmo tempo que ganharam maturidade emocional, algo mais comum em idosos”, complementa Serapião. “São essas conexões que a gente busca fazer. Isso acontece quando colocamos seniores em escolas para serem mentores educacionais, ajudando, inclusive a diminuir a evasão escolar.”
Além dos cuidados com a saúde, novos aprendizados e mesmo uma nova carreira, estão as relações sociais como importantes aliadas de uma vida longa e prazerosa. Em grandes cidades, no entanto, a dificuldade de locomoção ou a falta de equipamentos culturais podem ser grandes desafios, como aponta o médico patologista e pesquisador Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
“Dados de um estudo feito em Londres associam o metrô à expectativa de vida: no centro da cidade, a expectativa é de 90 anos, mas você perde um ano de vida a cada duas estações rumo à periferia”, relata. “Em São Paulo esse número é de seis anos. Por isso, acredito que exista uma dimensão oculta de qualidade de vida e de saúde dentro de uma visão ecossistêmica do que é uma cidade. Se você não souber manter ou recriar relações afetivas sociais, por exemplo, você está perdido.”
Sendo assim, é no dia a dia que aprendemos a colocar na balança de que forma nos cuidamos e convivemos. Afinal de contas, não se trata apenas de chegar à velhice, mas de viver mais tempo da melhor maneira possível. “Seja afetivamente, profissionalmente, fazendo viagens, passeios ou numa atividade prazerosa que nesse momento da vida pode acontecer sem a necessidade financeira”, acrescenta a psicóloga Valmari Aranha. “É importante usar esse período para resgatar desejos, perspectivas e sonhos que foram relegados a segundo plano. Não existe mais ‘isso é coisa de velho’ ou ‘isso não é para minha idade’. O que vai fazer a diferença é a condição em que cada um de nós se encontra, muito mais do que qualquer faixa etária.”
DANÇAR, FOTOGRAFAR, PLANTAR OU DOMINAR NOVAS TECNOLOGIAS PODE RESSIGNIFICAR A VIDA DE HOMENS E MULHERES ACIMA DOS 60
Três mulheres, três histórias, três mudanças. Maria de Lurdes, Eunira e Maria Benedita, de aproximadamente 70 anos, começaram a usar a internet e descobriram outros mundos possíveis. Participantes da atividade Alfabytezando, no Sesc Taubaté, voltada para o público idoso, elas aprenderam e colocaram em prática conhecimentos sobre fotografia digital, redes sociais, aplicativos e outras ferramentas que antes pareciam um bicho de sete cabeças. Juntas, protagonizam 3 Mulheres de Antenas, vídeo produzido para a programação As Mulheres e as Tecnologias, realizada neste ano no Espaço de Tecnologias e Artes (ETA) do Sesc Taubaté. A exemplo da letra da canção de Chico Buarque que inspira o nome do documentário, mirar-se no exemplo dessas mulheres só reforça a ideia de que nunca é tarde para se reinventar.
Afinal de contas, teremos, dentro de três décadas, mais idosos que crianças e jovens no Brasil. “Assim, esse público com 60 anos ou mais transformará várias esferas da sociedade como: a ampliação de políticas públicas para a velhice, aumento do mercado de trabalho, empreendedorismo, relações sociais, e a busca por diversas atividades relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida”, observa Alessandra Nascimento, assistente técnica da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc e doutoranda em Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Visando a esse segmento da população, em 1963 foi criado pelo Sesc São Paulo o Trabalho Social com Idosos. Um programa que, em sua trajetória, oferece atividades socioculturais, educativas e esportivas que acompanham a contemporaneidade, pensando nessa fase da vida e ampliando reflexões quanto ao significado de envelhecer. Atualmente, 41,6% dos matriculados nas atividades regulares de esportes do Sesc São Paulo correspondem a pessoas acima de 60 anos.
“A cultura do envelhecimento precisa estar no foco de vários diálogos, além de se tornar uma política a ser reconhecida e fortalecida, na qual os idosos não deixarão de ser protagonistas. Nesse sentido, as ações do Sesc fomentam esse cenário e a eminência do assunto”, complementa Alessandra. Confira algumas atividades que são destaque da programação de dezembro:
SESC BOM RETIRO Praticando na Internet: Redes Sociais, E-mail e Pen Drive (de 5 a 13/12) Nesta oficina será possível criar conteúdos e integrar-se ao mundo digital por meio do acesso às redes sociais, suas particularidades e finalidades. Os participantes também aprenderão a enviar e receber e-mails com anexos, além de fazer uso de uma máquina fotográfica e de um pendrive para fazer upload de conteúdos nas redes sociais ou num e-mail.
SESC ITAQUERA Léo Maia – Tributo a Tim Maia (dia 6/12) Filho de Tim Maia, o cantor Léo Maia faz releituras de canções eternizadas na voz inesquecível do pai. No repertório, Azul da Cor do Mar, Gostava Tanto de Você, Não Quero Dinheiro, Primavera, entre outras que embalaram gerações. Além disso, o artista vai contar histórias da família que há mais de meio século anima bailes no país.
Foto: Divulgação
SESC BELENZINHO Fazendo vídeos para aprender e ensinar (dias 14 e 21/12) Nessa atividade ministrada pelo designer e especialista em EAD Arlindo Alves, os participantes entrarão em contato com os princípios básicos para a utilização de recursos de vídeo em tablets e celulares. O objetivo é explorar novas formas de criação e expressão, bem como ampliar possibilidades de acesso, compartilhamento de memórias e experiências de vida.
Foto: Pexels
SESC POMPEIA Kokedama: ornamentos em musgo (até 19/12) A kokedama (“bola de musgo”, em japonês) pode ser aplicada em qualquer outra espécie de planta. Por isso, nessa oficina ministrada pela florista Carol Ikeda os participantes irão transpor uma planta de seu vaso inicial para a bola de musgo criada por eles. Ao final, poderão escolher a forma de disposição da kokedama: suspensa ou sobre algum suporte.
Foto: La Florida Studio
SESC IPIRANGA Jogos Teatrais & A Memória do Que Não Fiz Como Presente (até 19/12) Tendo como base uma pesquisa sobre memórias de arrependimentos e a linguagem do palhaço como ferramenta de subversão, nessa oficina a pergunta “e se tivéssemos feito diferente?” é o ponto de partida. Ministrado por Bárbara Salomé, o curso parte do uso da memória dos participantes como material cênico.
FILMES, LIVROS E ESPETÁCULOS TEATRAIS PODEM SER BOAS FONTES PARA REFLEXÃO SOBRE TEMAS IMPORTANTES E RELACIONADOS À VELHICE
CINEMA Candelaria (2018) Lançado neste ano, o longa-metragem de Jhonny Hendrix Hinestroza se passa em Havana, 1994. Nessa época, chega ao fim a Guerra Fria, no entanto o embargo a Cuba continua intacto. Neste cenário, a vida do casal Candelaria, 75 anos, e Victor Hugo, 76, está cada vez mais triste. Até que eles encontram uma câmera e, curiosos, passam a filmar o dia a dia, dando um novo significado ao relacionamento.
LIVRO Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, de Cora Coralina (Global Editora, 2015) Publicado em 1965, este foi o livro de estreia de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, também conhecida como Cora Coralina. A partir daquele momento, o público sentiu a alta tensão poética da escritora, que fez do verso uma chave para que seus leitores abrissem as portas da cidade histórica de Goiás Velho. Em 1985, ela faleceu aos 95 anos de idade. Após sua morte, amigos e parentes criaram a Associação Casa de Cora Coralina, mantenedora do Museu Casa de Cora Coralina (Saiba mais em: www.museucoracoralina.com.br).
TEATRO Num Lago Dourado Inspirado no longa homônimo de 1981, o espetáculo teatral fala sobre o amor na velhice e a relação entre pais e filhos. Na trama, um professor aposentado, prestes a completar 80 anos, interpretado por Ary Fontoura, passa as férias de verão com a esposa. Juntam-se a eles, na mesma casa, a filha acompanhada do futuro marido e do enteado. A peça fica em cartaz no Teatro Novo, no bairro da Vila Mariana, na capital paulista, até 16 de dezembro.
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