Postado em 23/10/2018
“Há em nossa sociedade um preconceito muito grande em relação ao envelhecimento. As pessoas velhas são vistas como ultrapassadas, improdutivas, dependentes, frágeis... É preciso portanto reverter esse quadro, especialmente diante da revolução demográfica que estamos vivendo e que permite um alongamento da vida cada vez maior.”
Trazendo um conjunto de iniciativas que busquem a inovação e a redefinição da longevidade, o laboratório Social LAB60+, em parceria com o Sesc São Paulo, apresenta o Festival da Longevidade, que acontece de 24 a 26 de outubro, das 10h às 17h, gratuitamente, no Sesc Itaquera.
O Festival oferece vivências, oficinas, apresentações artísticas e bate-papos sobre empreendedorismo, moradia, cuidado, finitude, trabalho, bem-estar, cultura, esporte e tecnologia, para todos os participantes.
E para saber um pouco mais sobre o LAB60+ e o que ele pode trazer as pessoas que participam, a EOnline conversou com o educador Rafael Sanches Neto, de 71 anos, frequentador dos encontros que o laboratório proporciona:
EOnline: Como você conheceu o LAB60+?
Rafael Sanches: Em 2015, num evento no Rio de Janeiro, promovido pelo Centro Internacional de Longevidade, conheci o Sérgio Serapião, que fez uma pequena apresentação do LAB60+. Na época eu havia decidido começar a trabalhar ajudando pessoas a construírem projetos de vida e trabalho para a segunda etapa da vida, que começa aos 50/60 anos. Eu estava cada vez mais impressionado com o drama das pessoas de minha geração, os chamados "baby-boomers" (nascidos entre 1946 e 1964), e sua enorme dificuldade de se manterem ativos e saudáveis em decorrência do isolamento social que chega com a aposentadoria, apesar de terem décadas de vida pela frente - graças à nova longevidade.
EOnline: Quais os benefícios que o LAB60+ trouxe a você?
Rafael Sanches: O que eu buscava no momento em que conheci o LAB60+ era uma organização ou uma empresa com a qual eu pudesse trabalhar e que permitisse dar escala a um trabalho que eu já vinha conduzindo de forma isolada com pequenos grupos de pessoas em São Paulo. E o LAB60+ se mostrou a parceria ideal para isso. Primeiro, por se tratar de um movimento de impacto social, orientado por uma causa e não por objetos comerciais. Segundo, pelo seu ideário de ressignificação da longevidade, com uma abordagem interdisciplinar e holística. E terceiro, por ser o articulador de um verdadeiro ecossistema da longevidade, mobilizando e reunindo pessoas, empresas e instituições de forma dinâmica e não competitiva.
EOnline: Fale um pouco sobre seus projetos de vida.
Rafael Sanches: Eu trabalhei por mais de 40 anos como educador, e a maior parte desse tempo coordenando iniciativas no campo da educação profissional de jovens e adultos. Ao chegar aos sessenta e poucos anos e perceber que precisava me reinventar para continuar trabalhando por um bom tempo, decidi me dedicar à preparação de pessoas 50/60+ para continuarem ativas profissionalmente. Surgiu assim o projeto Reinvenção do Trabalho 60+, que venho liderando. Trata-se de uma iniciativa voltada para apoiar pessoas que estão encerrando um primeiro ciclo de carreira e que têm pela frente a possibilidade de se construírem novas alternativas de vida e trabalho. Essas pessoas precisam se reinventar, assumindo uma nova identidade perante a sociedade e construindo formas de se manterem trabalhando e contribuindo com a sociedade.
EOnline: Por que é importante para o idoso se ver como protagonista da sua vida? Continuar modificando e contribuindo para a sociedade?
Rafael Sanches: Há em nossa sociedade um preconceito muito grande em relação ao envelhecimento. As pessoas velhas são vistas como ultrapassadas, improdutivas, dependentes, frágeis, etc. E esse preconceito atinge não apenas os jovens e adultos, mas os idosos também. Sua autoestima, sua autoconfiança e seu autorrespeito são contaminados por essa visão estereotipada da sociedade como um todo. É preciso portanto reverter esse quadro, especialmente diante da revolução demográfica que estamos vivendo e que permite um alongamento da vida cada vez maior. Quer dizer, cada vez será mais alto o percentual de idosos em nossa realidade populacional. E esse enorme contingente de pessoas apresenta, graças aos avanços da medicina e outros fatores, enorme capacidade produtiva e de contribuição social. Mas é preciso lidar com isso preparando os idosos e a sociedade como um todo.
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