Postado em 30/08/2018
O CineSesc apresenta no começo do mês de setembro três documentários brasileiros com temáticas indígenas. Com focos bastante diferentes, “Pelas águas do rio de leite”, “Como fotografei os Yanomami” e “Quentura” percorrem rios e florestas para contar histórias e trazem à sala de cinema conversas após as exibições. Sessões gratuitas.
O filme Pelas Águas do Rio de Leite será exibido no dia 4 de setembro, às 20h30. Fruto de uma experiência de registro de lugares sagrados e narrativas de origem dos povos indígenas da família tukano do Alto Rio Negro, o documentário relaciona-se com uma iniciativa mais ampla de mapeamento, documentação e salvaguarda dos lugares sagrados e conhecimentos associados dos povos indígenas que vivem no Noroeste Amazônico, região de fronteira entre Brasil e Colômbia.
Entre os anos de 2013 e 2015 um grupo de conhecedores do Alto Rio Negro, pertencentes a diversas etnias da família linguística Tukano Oriental, embarcou em duas expedições pelos rios Negro e Uaupés com o intuito de refazer parte da rota de origem e transformação do mundo. Segundo contam os conhecedores, esses primeiros ancestrais chegaram à região do Alto Rio Negro depois de uma longa viagem a bordo de uma Cobra-Canoa pelos rios Amazonas, Negro e Uaupés. Ao longo desse percurso, foram parando em vários lugares importantes, onde obtiveram os conhecimentos necessários para a vida de seus descendentes nessa terra. Foi com o intuito de recontar essa história que o grupo de conhecedores embarcou nessa aventura. A exibição será seguida de um bate-papo com a diretora do filme, a antropóloga Aline Scolfaro, e dois dos conhecedores do Alto Rio Negro que protagonizaram a experiência que o filme retrata – Higino Tenório, da etnia Tuyuka, e Miguel Pena, da etnia Tukano.
Como fotografei os Yanomami foi exibido em julho no CineSesc dentro da programação do Festival de Cinema Latino-Americano e volta para uma exibição especial seguida de conversa com o líder yanomami Davi Kopenawa. O filme apresenta a atuação de agentes de saúde em região Yanomami no estado de Roraima, em que enfermeiros e técnicos convivem com os conhecimentos dos habitantes das comunidades indígenas. A questão central do filme, porém, é a relação dos Yanomami com a captação de imagens. Um dos personagens do filme explica que quando uma pessoa yanomami morre, eles não ficam olhando sua imagem, porque a imagem não acaba, segue preservada. Ver uma pessoa morta em imagem é lembrar de alguém querido que já não está no mundo, embora a imagem esteja. O filme será exibido na segunda-feira, 10 de setembro, às 20h30.
No dia seguinte, 11 de setembro, a partir das 21h será exibido o filme Quentura. O documentário de 36 minutos apresenta perspectivas de mulheres indígenas da Amazônia sobre os impactos das mudanças climáticas nos seus modos de vida. As personagens do filme abordam as transformações ambientais enquanto lidam diretamente com a floresta, buscam os frutos, as sementes, as palhas, o cipó para fazer o artesanato. "É um tempo muito diferente que nem os espíritos estão conseguindo entender" e a necessidade de se falar da importância das comunidades tradicionais contra o desmatamento é urgente. Para a conversa após o filme, estarão Almerinda Ramos de Lima do Povo Tariano, Sineia Bezerra do Vale, do povo wapichana, Mari Correa, diretora do filme, e Patricia Zuppi, da Rede de Cooperação Amazônica.