Postado em 13/08/2018
“Se você tiver que perguntar, nunca vai saber”. Esta foi a resposta de Louis Armstrong, quando perguntado “Afinal, o que é Jazz? ”. Longe de ser uma definição, a bem-humorada assertiva de Satchmo, como era conhecido o trompetista e cantor norte-americano, nos propõe ao mesmo tempo um enigma e um caminho. Jamais saberíamos afinal o que é jazz, se tivéssemos que perguntar... então, talvez, a melhor maneira seja evitar os rótulos e apenas ouvir.
Nascido nos Estados Unidos, o jazz é um órfão com uma enorme quantidade de pais e cuidadores. Hoje olhamos com distância segura até o período que usualmente identificamos como os anos de seu surgimento, e podemos afirmar que aqueles homens e mulheres não tinham a menor ideia do que estavam forjando. O filho pródigo saiu de casa, viajou o mundo, rompeu barreiras e congregou sob seus auspícios figuras tão distintas, e distantes, quanto Thelonious Monk, Hugh Masekela e Tom Jobim.
Esta fonte de inspiração, aparentemente, universal e inesgotável, segue em câmbio ao redor do globo, alimentando-se e transformando todo som com o qual entra em contato. Atravessa os mares e sobe as montanhas com uma força digna de criação. Expande-se e aglutina, distende e para, morre e retorna.
Para celebrar o “jazz ao redor do mundo”, e, por que não, aproveitar o momento em que o Sesc São Paulo abre as portas de nove de suas unidades aos mais diversos representantes do novo/velho jazz no Sesc Jazz, apresentamos uma nova seleção para a nossa playlist Só jazz não basta (e que nome, não é mesmo?). A playlist, longe de querer sintetizar uma produção tão vasta e variada, busca reunir algumas dessas intrépidas mulheres e homens que levam o jazz adiante, e, às vezes, até as últimas consequências. O fio condutor é o próprio gênero, mas não aquele de almanaque, não aquele do imaginário clichê, e, sim, o Jazz que está nas ruas e nos palcos em constante processo de transformação e apropriação.
Para tanto, olhamos justamente para os sons que estão sendo produzidos mundo afora, e cuja “classificação” como jazz (ou mesmo seus pontos de contato), não é de forma alguma um rótulo preguiçoso, armadilha fácil das prateleiras contemporânea, mas sim, um acercamento, uma identificação afetiva, com sua premissa livre e agregadora. A audição poderá provocar muitos questionamentos, sobretudo da própria natureza daquilo que convencionamos chamar Jazz!
Será que Louis Armstrong arriscaria prever as misturas incomuns do gênero que o popularizou com a música folclórica do Cáucaso ou dos Andes? Caso o fizesse, sua resposta ganharia ainda mais força, não como chave de uma indefinição permanente, mas como desconstrução definitiva de todos os rótulos que tentaram atribuir ao jazz ao longo dos tempos.
*O apelido de Louis Armstrong deriva de satchel-mouth, um peixe nativo da costa leste norte-americana, cujo nome é uma gíria urbana para “boca-larga”, que equivale ao nosso tagarela.
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Você pode escolher onde escutar - a mesma playlist está nas plataformas de streaming Spotify ou Deezer.
A playlist terá atualização semanal, até o fim do Sesc Jazz.