Postado em 19/07/2018
Um dos principais subgêneros da ficção científica, que geralmente aborda distopias futuristas, ora vejam, tem sua inspiração no passado e não no futuro. Com máquinas a vapor, estilo vitoriano colonial e franca homenagem a escritores como Julio Verne, o steampunk é ficção científica do século XIX produzida no século XXI em todas as suas formas de expressão.
Também conhecida como tecnovapor, o steampunk é um movimento dentro da ficção científica que ganhou fama no final dos anos 1980, começo dos 90 e é uma prova do quanto o gênero é adaptável e pode se reinventar das formas mais diversas e incríveis. A ficção científica tem, de modo geral, como principal questionamento, o avanço da tecnologia e seu impacto na vida humana. Lida com conceitos ficcionais e imaginativos, relacionados ao futuro (mas podem ser ambientados no passado como no caso do steampunk) ciência e tecnologia, e seus impactos e/ou consequências em uma determinada sociedade ou em seus indivíduos.
Questiona a relação do homem com sua própria criação e o eterno embate sobre quem domina quem, despertando em nós um de nossos medos mais primais: o de sermos dominados por nossas criações e descartados como espécie dominante.
Podemos dizer que o steampunk é um primo de uma outra vertente da ficção, o cyberpunk, e que, como ele, também explora o uso da alta tecnologia em detrimento da qualidade de vida, mesclando ciência avançada, acompanhadas de certo grau de desintegração ou mudança radical na ordem social. Só que tudo isso ambientado no século passado.
O seu nome remete a vapor (steam) e diretamente nos leva à época da expansão industrial, grandes máquinas a vapor, locomotivas, e a uma sociedade que, ao mesmo tempo que se maravilhava com a industrialização acelerada, se perguntava se a vida e o trabalho humanos teriam algum valor dali para a frente. Partindo dessa premissa, dentro da realidade ficcional do gênero, todos os dispositivos tecnológicos contemporâneos (computador, celular, robôs, automóveis, etc) são adaptados para a tecnologia da época: robôs à vapor, naves, carros, armas, computadores etc.
O steampunk é hoje um dos subgêneros mais explorados na ficção científica seja no cinema ou na literatura. Mas naturalmente não nasceu com esse nome. Obras clássicas da ficção científica acabaram recebendo essa classificação porque foram escritas ou ambientadas no século XIX ou começo do século XX. Entre elas destacam-se as de Julio Verne (considerado o pai do steampunk), H.G. Wells, Mark Twain e Mary Shelley, por exemplo.
O enredo gira geralmente em torno de um grande inventor, que frequentemente serve como ponte entre a necessidade e a criação e ainda mantém o gênio humano como condutor das histórias.
As vestimentas dos personagens steampunk também seguem o mesmo padrão, os trajes são vitorianos, mas geralmente equipados com aparatos a vapor, uma pegada “vintage” moderna, mas fazendo menção ao passado. Isso fez com que gênero fosse facilmente identificável e caísse nas graças do público, despertando o interesse não só de autores, mas de cosplayers e estilistas e designers em geral. Por conta disso, e o que torna o subgênero ainda mais interessante é que o steampunk não se limita ao universo ficcional. Conquistou uma legião de fãs que o adotou como filosofia de vida e o celebram fielmente.
O Brasil é bastante avançado nesse meio: Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, possuem conselhos organizados que promovem várias atividades para fãs. Em seus encontros, há desde discussões sobre obras até a produção de artesanato com base no steampunk, tudo isso com fãs devidamente caracterizados como integrantes desse universo.
É a ficção ultrapassando barreiras e tornando-se realidade.
Por Gabriela Franco
Jornalista e responsável pelo blog Minas Nerds