Postado em 17/07/2018
De 18 a 22 de julho de 2018, o Sesc Avenida Paulista apresenta o espetáculo “Rio Diversidade”, que aborda a temática LGBT e discute as questões de gênero e diversidade sexual. Composta de cinco peças curtas, a montagem traz em cada solo uma pluralidade estética e temática, que aborda, ora com humor e minimalismo, ora com tragédia e realismo, assuntos como intolerância, gordofobia e preconceito.
Confira a seguir a entrevista com Marcia Zanelatto, dramaturga e idealizadora da ocupação artística e o convite da drag queen Magenta Dawning, que apresenta e conduz o espetáculo.
Eonline: Como a ocupação artística Rio Diversidade dialoga com o atual momento político e social do Brasil?
Marcia Zanelatto: Escrevi o projeto em 2014, quando o Brasil estava em franco desenvolvimento de políticas públicas LGBTs. A ideia era colaborar com esse desenvolvimento no campo das subjetividades, fomentando as narrativas de vidas não-heterossexuais e provocar mas empatia com elas. De repente, as coisas mudaram radicalmente, a onda retrógrada chegou e o projeto virou um projeto de resistência. Ele se tornou um símbolo e um ponto de convergência. O momento é de confronto de projetos para a sociedade. Existe um projeto de dominação dos corpos e sexualidades. E existe um projeto de fomento à autonomia das subjetividades e à liberdade de expressão. Agora, cada pessoa vai ter que decidir de que lado está, e isto vai pesar nas urnas em outubro. Nesse momento, acho que nosso trabalho é, através da poética cênica, elevar o nível e a potência da reflexão que resultará no ato cívico.
O ator Thadeu Matos em "A Noite em Claro" - a peça lembra o assassinato por homofobia
do diretor teatral Luiz Antonio Martinez Correa, colocando em cena vítima e algoz.
Eonline: O que motivou a decisão de criar um espetáculo com peças curtas? Como que as peças conversam (ou não) entre si? O que é particular em cada uma?
Marcia Zanelatto: O conjunto de peças-curtas realiza na estética a diversidade do tema. As peças são muito diferentes entre si e convivem muito bem juntas. No final das contas, é exatamente isso o que a gente quer. Acontece no palco, o que desejamos que aconteça nas ruas. A harmonia surpreendente que vem da pluralidade nos revelando uma forma mais prazerosa de viver e conviver. Ninguém precisa ser igual pra viver bem junto.
A atriz Gabriela Carneiro da Cunha na peça "A Flor Carnívora": em plenária, uma flor afirma a diversidade e protesta contra a colonização organizadora do homem, que procura catalogar e normatizar o que a natureza criou diverso.
Eonline: Na sua opinião, o que ainda falta para a sociedade brasileira avançar na inclusão da comunidade LGBTQ?
Marcia Zanelatto: Quando os colonizadores chegaram no Brasil, encontraram a prática homossexual masculina e feminina em diversas etnias índigenas. E no processo colonizatório, a homossexualidade foi criminalizada e considerada um pecado. Mas passou a ser praticada às escondidas e à força. A colonização europeia transformou liberdade em perversidade. Produziu e disseminou o ódio nas sexualidades. E ainda estamos carregando isso dentro de nós até hoje.
É preciso que cada pessoa chegue a ter coragem de ser ver LGBTfóbica, racista e machista. Só quando você reconhece que essas ideias estão dentro de você, reconhece que elas definem suas atitudes e seu discurso, é que você pode começar a mudar o Brasil. O primeiro trabalho é o mais difícil, silencioso e interno. Não adianta fazer textão no Face se dentro de você as vozes transfóbicas comandam, por exemplo. Tem que fazer muito exame de consciência e isso exige coragem e muito amor. A gente tem que pensar muito e então agir no mundo. Não precisa de muito discurso, precisa de muita atitude. O que conta é o que você faz. A vitória sobre nossos preconceitos tem que estar nas folhas de pagamentos, nas políticas públicas tanto quanto na roda de amigos e na mesa do jantar.
Eonline: E agora com vocês, Magenta Dawning!
Amado público paulistano,
É um prazer estar de volta depois de um ano para outra temporada da Rio Diversidade. Não tem lugar melhor que essa cidade pra cantar o amor e a liberdade. E é de cabeça que mergulhamos nesse caldeirão humano, nesse imenso labirinto urbano.
Quero fazer a vocês uma convocação. Um convite à celebração, à reflexão.
Aqui toda gente tem entrada, sem exceção! Mas é bom que esteja preparada e com disposição pra caminhada! Porque pra colorir a vida é preciso sair do lugar. É preciso se mexer, mudar. É preciso estar aberto a errar.
Não deixe o cinza do mundo te acorrentar!
E eu prometo a vocês uma noite de festa, de rito. Uma noite de sussurro e de grito. Um encontro de afetos, de feitiço, de resistência e compromisso.
Sejam todxs bem vindxs!
Magenta.