Postado em 09/07/2018
* Por Michael Anielewicz
O acesso à literatura está longe de ser considerado direito de todos, mas tem uma grande conexão com a luta pelos Direitos Humanos. Segundo Antonio Candido a leitura e expressão literária nos ajudam a dar forma aos sentimentos e visão de mundo, nos aproximando dos valores, regras e ritos da sociedade em que estamos inseridos e o mundo a sua volta. Além disso, quando nos familiarizamos com o universo literário, adquirimos ferramentas para compreensão dos problemas ao nosso redor, incluindo visão crítica frente a situações de restrição de direitos, submissão e exclusão social.
Convém lembrar que a literatura não é uma experiência inofensiva, senão uma aventura capaz de provocar reflexões e crises, se colocando em nosso caminho, assim como as experiências da vida. A expressão literária, que inclui os livros ilustrados, é capaz de defender e combater ideias, além de nem sempre estar de acordo com as convenções. Os caminhos e debates provocados por este campo fundamentam a importância do acesso à literatura, que humaniza em sentido profundo, já que nos ajuda a viver os problemas dialeticamente.
O mundo das imagens está diretamente ligado ao nosso cotidiano. Imersos em metrópoles, somos motivados a absorve-las constantemente. Muitas destas imagens têm sem dúvida alcance universal, mas exigem muito do ato de leitura. A visão, ao operar neste campo, não é instantânea, está ligada a uma atividade mental profunda que conecta tempo, memória individual e coletiva, além de um imaginário comum. As ilustrações presentes nesta exposição e os livros compostos por elas são capazes de transportar o leitor para a riqueza imaginativa que existe ao nosso redor e, ao mesmo tempo, estimular afeto e incitar o senso crítico.
Stepan Zavrel "High Water in Venice", do livro Venedig morgen. Bohem Press. Zurich, 1974
Alguns livros são tão imersivos que os leitores, em especial na infância, não veem ilustrações, mas possibilidades, imaginando universos externos aos seus. Para jovens e crianças imersos na violenta desigualdade das grandes cidades, refletir sobre outros mundos possíveis é talvez uma saída. Para além disso, em contraste com muitos adultos, crianças não se sentem necessariamente diminuídas quando confrontadas com a tristeza ou conflitos. Existe uma abertura e concessão em quebrar problemas em pedaços menores, a serem absorvidos e sentidos de maneiras surpreendentes.
Ao realizar a exposição A Ilustração como Porta para o Mundo, em parceria com a Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, o Sesc reforça sua atenção ao universo artístico singular do livro ilustrado. Explorar este campo, é valorizar o atravessamento das diferentes linguagens artísticas mobilizadas por estes trabalhos, que se apropriam de recursos da pintura, fotografia, design gráfico e do próprio desenho, em diálogo e codependência com o texto escrito. Ao público fica o convite a percorrer a diversidade e potência deste conjunto de artistas, de vários países, além das temáticas poéticas e políticas carregadas através das ilustrações.
*Michael Anielewicz é técnico de Artes Visuais do Sesc Bom Retiro
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