Postado em 21/06/2018
Conversamos com Gustavo Torrezan, pesquisador do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo. Atuou como educador de 2009 a 2013 no Programa Internet Livre e, entre 2013 e 2018, trabalhou como assistente técnico da Gerência de Artes Visuais e Tecnologias (GEAVT), participando da idealização dos Espaços de Tecnologias e Artes no Sesc SP.
“O conceito de #ArteCorpoTecnologia foi o que pautou a concepção do 4º andar do Sesc Avenida Paulista. Ele foi inicialmente pensado com três salas de oficina, com ênfase para o audiovisual e a performance. Essa concepção caminhou na mesma direção que o próprio Programa Tecnologias e Artes do Sesc SP, que potencializa a ideia de um hibridismo ou de uma não-definição de determinados campos de trabalho, para fomentar o processo, a partir de diferentes perspectivas e ferramentas.
Para o programa de Tecnologias e Artes, propomos o convívio do audiovisual com outras práticas, o convívio do corpo com várias ferramentas, reforçando a ideia de um espaço processual, do fazer a partir da inventividade. Isso é muito importante enquanto conceito, já que é a base da concepção do programa, e pauta a inventividade, a construção da linguagem e a experimentação das ferramentas para um processo educativo de criação.
Afinal, esse é o lugar das artes, né?
Nesse sentido, também pensamos em como a tecnologia, vista de um modo amplo, cria subsídio às práticas artísticas, para essa construção de linguagem. E aí, dentro dessa perspectiva, criamos três espaços com diferentes nichos de equipamentos: foram colocados aparelhos super tradicionais, rudimentares, como martelo, serrote, chave de fenda e alicate, junto com equipamentos mais modernos, como a CNC Router, a cortadora a laser, a impressora 3D, os computadores gamers, que são uma exclusividade da Unidade da Avenida Paulista. E mais: computadores para edição de vídeos, computadores para programação - baseados sempre no software livre - e equipamentos de audiovisual.
Então, esse espaço tem a singularidade de ser um local que não é o maior do Sesc São Paulo, mas que está fundamentado nas áreas que o programa atua em todo o Estado: a experimentação e a invenção de ferramentas para a construção de linguagens.
Para os espaços de Tecnologias e Artes do Sesc São Paulo a prática da cooperação e do fazer junto são ideias fundamentais. A linguagem só existe quanto compartilhada - e aí é que está o grande trunfo da tecnologia em relação ao mote da inovação: a potência do compartilhamento de conhecimento. Aí está a verdadeira relação da inovação através da tecnologia, da pedagogia, da educação e da arte.
As expressões artísticas, como o teatro, as artes plásticas, a música, a dança, entre outras, partem de uma construção individual ou de um grupo, e vão se popularizando, se consolidando, se solidificando e se amalgamando enquanto uma linguagem comum das pessoas. A partir disso, a linguagem artística se torna uma expressão cultural, uma linguagem comum, na qual as pessoas vão se apropriando e alterando conforme suas necessidades. Essa é a perspectiva conceitual pensada para o andar Tecnologias e Artes do Sesc Avenida Paulista.
É o entendimento de que a primeira tecnologia é o corpo, é a voz. É quando o macaco passa a entender o dedão opositor e a fazer pinça, e daí para a nanotecnologia, a biotecnologia, as tecnologias digitais, é todo um passo, é questão de processo. Mas o mais interessante é entender que todo esse arco de descobertas passa pelo humano, passa pelo corpo se expressando, criando e utilizando ferramentas para singularizar-se.
Essa linha de raciocínio é a base do programa Tecnologias e Artes na Avenida Paulista, que está preparado para acolher desde os mestres do saber popular, até os cientistas e os curiosos.
Isso é muito importante porque enquanto perspectiva conceitual, esse pensamento considera a importância do fazer como construção de uma comunidade de solidariedade, de expressividade e de troca de conhecimento!"