Postado em 08/06/2018
A Mostra Libertária, que aconteceu no Sesc Belenzinho de janeiro a março de 2018, foi composta por uma programação de cinema, dança, literatura, música e teatro, a partir de um eixo de curadoria que privilegiou a potência das poéticas dissidentes - questionadoras de normativas de gênero - os corpos insurgentes e os discursos artísticos libertários.
O evento trouxe para o centro da discussão corpos e ideias não normativos, ampliando a voz daqueles que historicamente foram e são silenciados: mulheres, homossexuais, transgêneros, negros e outros sujeitos sociais. Como elemento estrutural da sociedade, as muitas formas de normatividade marcam a linha do tempo e os modos de produção artística, negando a legitimidade da presença, sabotando o lugar de fala e a representatividade.
Por meio da presente mostra, o Sesc reiterou o seu compromisso com a cultura e com a educação, ao trazer produções e processos artísticos que debatem a liberdade de expressão em sua imbricação com a liberdade dos corpos.
Confira um resumo do que rolou nos encontros:
Leituras do Prazer - Encontros de Leitura de Literatura Erótica
O Encontro aconteceu no dia 15 de fevereiro e contou com a participação do poeta Akins Kintê, que falou um pouco sobre a literatura erótica negra brasileira, sobre suas inovações e reinvenções até os dias atuais.
Além de várias declamações, o poeta ainda trouxe a musicalidade das poesias da rua e falou sobre as dificuldades de falar sobre o erotismo ainda mais quando relacionado a corpos negros e ao preconceito que ainda se vê com a literatura feminina negra.
Foto: Karla Priscila
Quem tem medo de travesti?
Dando um olhar artístico ao universo trans, o Coletivo As Travestidas abordou nesta apresentação, de uma forma sensível, o medo daquilo que não se conhece ou que se julga, mesmo sem conhecer.
Repleto de contrastes, com momentos alegres, festas, músicas e fantasias que se contrapõem a todo instante com momentos tristes, o espetáculo mostrou a vida de algumas travestis que, além dos desafios cotidianos ainda têm que lidar com situações de discriminação, violência e preconceitos, que as cercam em, praticamente, todos os dias de suas vidas.
O Espetáculo, que aconteceu nos dias 16, 17 e 18 de fevereiro, buscou visibilizar a temática trans, trazendo questionamentos históricos, sociais e políticos.
Foto: Karla Priscila
Oficina Escrita Erótica
Com o objetivo de incentivar a produção literária erótica, foi oferecida ao público uma oficina com cinco encontros com autores ligados à temática; cada autor contribuiu compartilhando sua experiência. A oficina aconteceu de 16 de janeiro a 20 de fevereiro.
Por meio de bate-papo, leituras e escrita na prática, Alexandre Marques Rodrigues, autor do livro Parafilias, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2014 na categoria Contos, encerrou a oficina no dia 20. Além de falar sobre conceitos de livros de contos e romances, propôs a criação de um conto em conjunto.
“Pra mim é muito natural que o erotismo esteja onde eu escrevo. Escrever sobre trepar e se masturbar é normal, são coisas comuns do dia a dia de qualquer ser humano”, afirmou o autor.
Foto: Karla Priscila
Terrário - Dança Privê num Portal Interdimensional
Uma sala escura, cacos de espelho no chão e ao fundo uma grande caixa preta repleta de areia. Neste cenário, um homem parado que, conversando com o público, começa a se despir até ficar totalmente nu. Em meio a luzes, música e dança, a plateia se depara com momentos curiosos e angustiantes.
Assim, com o corpo confinado e entre fragmentos, estilhaços, infinitos reflexos com espelhos, luz e areia, o artista curitibano Maikon K observou e se deixou observar, sem se deixar tocar, na apresentação de dança Terrário, que aconteceu nos dias 23, 24 e 25 de fevereiro.
Foto: Karla Priscila
Isto é um negro?
Divididos por cenas e experiências singulares, nus, artistas mostraram seus corpos, suas cores, seus suores. Vidas vividas, vidas sofridas, vidas estereotipadas mas, mesmo assim, cheias de vontades, de sonhos, de realidades...
Um espetáculo teatral que, por meio de uma encenação curiosa e dramática, abordou questões raciais e negritude, falando do que é ser negra e negro hoje no Brasil. A peça esteve em cartaz de 2 a 11/03 na unidade.
Foto: Rodrigo Oliveira
Gênero em Questão
Letícia Lanz, psicanalista, poetisa, escritora, pensadora e transgênera, especialista em gênero e sexualidade e autora do livro O Corpo da Roupa, participou da palestra do dia 7 de março, trazendo ao público um bate-papo sobre os conceitos acerca dos universos trans.
Letícia, que tem em seu núcleo familiar esposa, filhos e netos, contou um pouco sobre seu relacionamento e vivências em família e respondeu questões do público.
Foto: Karla Priscila
Explode Textão
Mediadas por João Simões da Plataforma Explode!, as oficinas contaram com a participação de transexuais e travestis não binários que a partir de suas experiências desenvolveram trabalhos de escrita literária.
O final de semana dos dias 24 e 25 de março, foi de Bibi Campos Leal, doutoranda em Filosofia pela UFRJ, antiespecista e ativista trans. Bibi trouxe discussões sobre as estratégias da desconstrução de Jacques Derrida, pensamentos gregos, escrita sexual, questões heteronormativas, e falou também sobre os termos: Tropinicuir (um trocadilho com a palavra “queer” utilizada no Brasil) e Sudaka (que reflete o empoderamento da comunidade sulamericana em terras xenófobas e colonizadoras).
Foto: Karla Priscila
Linn da Quebrada
E encerrando a Mostra, Linn da Quebrada envolveu o público com um show animado, dançante e provocante, no dia 31/03. Apresentando o repertório do seu primeiro disco, Pajubá, estilo afro-funk-vogue, trouxe letras políticas e dançantes e a luta pela quebra de paradigmas sexuais, de gênero e corpo. Veja como foi: