Postado em 08/06/2018
*Por Helio Hinzte
O ‘turismo’ é encontro de pessoas e a Ética (reflexão sobre a convivência) é central ao turismo. Quando dois ou mais seres humanos se encontram, ergue-se a possibilidade da ‘hospitalidade’ (em sua etimologia: a ‘condição de estrangeiro’, a ‘condição de ser o outro’) ou de sua transgressão.
Os encontros turísticos são assimétricos, marcados por relações desiguais de poder entre aqueles que desejam e podem viajar, aqueles que trabalham ou que vivem nas comunidades nos destinos procurados. Portanto, urge falarmos sobre os ‘direitos’ dos seres humanos que, historicamente, têm sido relegados às vulnerabilidades nas relações que travam em suas vidas, em especial, quando estas sãotocadas pelo turismo.
O turismo é alardeado como vetor de desenvolvimento pelas forças neoliberais que o moldam à sua imagem; tem suas raízes e desenvolvimento apoiados num tripé: o Ocidente, a Modernidade e o Capitalismo. Tríade esta marcada por um elemento mais basal: o Patriarcado branco, heterossexual e cristão. Portanto, tendo como base o sistema patriarcal, o turismo é estruturalmente marcado por uma assimetria de fundo: a dicotomia entre colonizadores e colonizados. Assimetria naturalizada nos três elementos constitutivos da ‘realidade’: espaço, tempo e linguagem e reproduzida em diversas outras assimetrias, (re)produzindo privilégios para uns e não para outros.
Entre as incontáveis vulnerabilidades, ‘gênero’ e ‘raça’ permeiam o desenvolvimento turístico de forma viral; os estereótipos do lado fraco das assimetrias modernas são materia prima para o turismo hegemônico, produzidas como atrativos turísticos (ou mão de obra), distribuídas e consumidas como mercadoria em sua lógica.
O estudo crítico do turismo dá seus primeiros passos e enfrenta a ‘profunda superficialidade’ dos estudos hegemônicos regidos pelo mercado e por quem dele se utiliza como exercício de poder. Quanto mais criticamente analisamos o turismo, mais percebemos que ele é uma estrutura de dependências e de (re)produção de vulnerabilidades. É necessário desvelar os mecanismos que as constroem e discutir as responsabilidades de cada agente do turismo nesse panorama.
*Helio Hintze é educador, filósofo e pesquisador interdisciplinar. É doutor em Ciências e mestre em Ecologia Aplicada pela USP, com Pós-doutorado em Economia, Administração e Sociologia também pela USP. Especialista em Ecoturismo pelo SENAC SP Fundador, consultor e palestrante da Usina do Conhecimento. Atua como educador no Projeto Fazer Pensar e como Educador no Projeto Sabores & Saberes: Educação para o Gosto. É Consultor Associado da GKS Consultoria e autor de livros sobre consumismo e turismo.
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Sobre o Seminário
O "Seminário Internacional Turismo e Direitos num Mapa de Contradições” acontece entre os dias 12 e 13 de Junho, no Sesc 24 de Maio, propondo uma reflexão sobre a democratização do acesso e os impactos das práticas turísticas.
Conversamos com Helio Hintze, que irá mediar uma das mesas do evento intitulada "As facetas turísticas da vulnerabilidade", para nos contar um pouco mais sobre este tema:
O seminário, que compõe as ações comemorativas aos 70 anos do Turismo Social no Sesc em São Paulo, pretende investigar as relações entre turismo e direitos humanos, partindo da percepção já mundial de que se trata de um panorama com graves desequilíbrios. Estão previstos no Seminário debates sobre o significado de desenvolvimento (já que frequentemente a atividade turística é defendida como proposta de prosperidade para os municípios); sobre as políticas de inclusão ou exclusão dos públicos no turismo; sobre os conflitos causados pelo exercício do turismo com relação ao direito dos moradores a suas cidades; sobre os processos que acentuam diversas vulnerabilidades sociais a partir da atividade turística. Para refletir sobre esses temas o seminário recebe estudiosos do Chile, Argentina, Espanha, Austrália, Canadá, México e do Brasil.
As vagas para o Seminário estão esgotadas, mas quem não conseguiu se inscrever ainda pode participar das atividades associadas que estão com inscrições abertas.
Saiba mais em sescsp.org.br/turismoedireitos