Postado em 23/04/2018
“São Paulo é um super bang, mas eu acho que se a gente não enxergar a poesia da cidade, a gente vai endurecer”
Tulipa Ruiz
Do alto do Sesc Avenida Paulista, a cantora fala da sua relação com a cidade e seu amor pela avenida mais famosa da capital. Filha de Luiz Chagas, um dos músicos mais marcantes da vanguarda paulista, Tulipa divide com a gente seus olhares sobre São Paulo e as possibilidades de encontros que a cidade proporciona.
"Bom, eu nasci em Santos, mas eu cresci em Minas, no sul de Minas, em uma cidade chamada São Lourenço. Morei em São Paulo até os três anos e fui pra Minas, cresci em Minas e voltei pra São Paulo com 23. Então, eu me formei fora de São Paulo, mas eu sou filha de um grande paulistano. Um grande cara... O cara mais paulista que eu conheço é meu pai. Ele tocou com o Itamar Assumpção a vida inteira, então cresci vendo o meu pai fazendo música, uma música muito paulistana, ouvindo a vanguarda paulista.
Vim pra cá em 2000 e foi muito interessante mudar pra São Paulo porque ao mesmo tempo que eu cresci tendo um pai que era super paulistano e vindo pra cá nas férias, eu não sabia como era morar aqui, vim de uma cidade muito pequena, de 60 mil habitantes.
Eu tenho uma relação de muito amor com a Paulista, porque é o lugar onde eu vim fazer cursinho, onde eu ia ao cinema, onde eu descia pra fazer curso no CineSesc, que levava até o Riviera, que era um bar que eu conheci na história em quadrinhos e que depois meu marido me contou que era onde ele bebia na faculdade.
A Paulista me faz descer a Augusta, a Paulista me leva pra muitos lugares e eu acho que São Paulo, sobretudo, é um lugar de encontros. Eu cheguei aqui e foi muito impressionante conhecer o Rio de Janeiro aqui, conhecer o Belém do Pará aqui, conhecer Goiânia aqui. Então eu conheci todas essas outras linguagens e outros Estados do Brasil... e outros estados de espírito.
Eu aprendi a fazer música aqui, na verdade. Eu aprendi a trabalhar com essa linguagem toda que eu enxergava e imaginava. Aqui eu consegui estruturar. Eu acho que a minha poesia é racionalizar um pouco o meu sensível. São Paulo é um super bang, é super difícil e tudo, mas eu acho que se a gente não enxergar a poesia da cidade, a gente vai endurecer. E acho que esse não é o caminho, sobretudo agora.
Eu acho que a gente tem que se encontrar na cidade, ocupar a cidade. Essa Paulista fechada, com um monte de criança andando de bicicleta, é a coisa mais linda do mundo. Eu tenho visto na cidade o movimento da galera tanto das bicicletas quanto de hortas urbanas, nos bairros... Estou morando num bairro agora onde a galera é super organizada. Essas micropolíticas têm me feito acreditar que é possível viver numa cidade grande como São Paulo."
Tulipa apresenta "Memórias Inventadas Exatamente Agora - Tulipa Ruiz inspirada por Manoel de Barros" na inauguração do Sesc Avenida Paulista, nos dias 29/4 e 1/5, na parte da tarde.