Postado em 19/03/2018
Em duas únicas apresentações, o espetáculo Tristeza e Alegria na Vida das Girafas atravessa o oceano para nos mostrar um pouco de uma história de vida. As sessões, que acontecem nos dias 21 e 22 de março, no Sesc Bom Retiro, estão com ingressos disponíveis - no Portal e nas Bilheterias de todas as Unidades do Sesc.
A montagem francesa conta a trajetória de uma garota que, aos 9 anos, perde a mãe e se vê pelas ruas de Lisboa tendo que amadurecer e aprender a lidar com adversidades adultas.
Entrevistamos o diretor Thomas Quillardet, que nos contou sobre a concepção do espetáculo e seu processo de montagem. Ele afirma que o tema surgiu de uma construção tênue entre o universo da infância e o mundo do adulto. O autor – o português Tiago Rodrigues – é pai, e com esse olhar, constrói a narrativa ora com um olhar protetor, ora com olhar de fracasso.
“É neste momento que vem o olhar da menina sobre o pai. E a menina quer se proteger também. Ela vai se mostrar quase mais madura que ele.”
Thomas também afirma que o texto está posicionado no lugar maduro da infância, pois a sensibilidade desta criança é tão aguda que ela percebe os movimentos dos adultos, os medos. Assim, o texto se torna um convite a compartilhar nossas sensibilidades: adultos e crianças juntos.
Sobre a aproximação da montagem com a realidade brasileira, Thomas conta que a peça nasceu durante a crise econômica que a Europa atravessou e disserta sobre essa violência financeira que cai em cima das pessoas mais frágeis e mais fracas. No caso de Portugal, cenário da peça, ele percebe a clareza no massacre econômico: as pessoas pobres ficaram ainda mais pobres.
“Uma injustiça enorme porque a culpa não era deles. A Europa enfrentou uma crise econômica e bem ou mal o pacto democrático resistiu. Em alguns países os debates foram duros, amargos. Extremismos nas portas do poder.”
Porém, ele afirma sentir que houve a resistência. O diretor observa que o povo continua lá, vivendo os restos de democracia, debatendo e indo pra rua (menos do que antes, mas na rua).
Sobre o nosso país, Thomas diz:
“O Brasil esta à frente de uma grave crise política e econômica, que não esconde essa democracia quebrada. O contrato esta rompido, quebrado. A democracia serve para proteger, dar um sentido. E sobretudo num chão comum. Sem essa confiança no ser político, que seja a crise ou o crescimento nada pode andar corretamente.”
Esperançoso, ele continua reafirmando a crença da peça: que nós podemos continuar juntos pois somos seres profundamente políticos. “Construímos juntos. É isso que o governo-golpista brasileiro destruiu em mais de um ano: a figura do ser politico.”
Como cada artista se envolve no processo de montagem da obra?
“Eu deixo sempre muita liberdade para o ator. Sem ator livre, para mim, não pode ter peça.” Para o diretor, a construção da peça deve ser coletiva. Ele também ressalta que o fato de ter traduzido a peça para o francês o ajudou muito. “Eu andava com ideias muito concretas. Foi bem mais rápido e certo do que quando eu não traduzo.”
Questionado sobre alguma curiosidade durante a preparação ou nas apresentações já realizadas, Thomas cita as reações das pessoas com o urso (uma personagem interpretada pelo Christophe Garcia). “Ele se chama Judy Garland, mas ele é totalmente depressivo. Não é um urso como os outros…mas não posso contar.”