Postado em 06/02/2018
Texto: Caco de Paula (com colaboração de Gabriela Aguerre e Afonso Capelas Júnior)
Pensar em sustentabilidade é alimentar uma idéia de futuro. Um futuro que se produz agora, com escolhas conscientes e instruídas, ao qual somente chegaremos se nosso pensamento e ação puderem ser mantidos, conservados, equilibrados, enfim, sustentados ao longo do tempo. Para construir esse futuro e não apenas mais uma repetição do passado em nova roupagem, é necessário abraçar conceitos, palavras e nomes que não fazem parte de nosso repertório comum. Algumas delas são novas e muitas vezes parecem indecifráveis, pois ainda estão naquela forma que o poeta Manoel de Barros chamava de “estado de larva”. Borboletas todos veem e entendem. Mas larvas não voam, nós não as entendemos muito bem. Temos pressa, não podemos esperar até que voem. E porque ainda não voam, ou já não voam mais, não queremos saber delas.
Há outras palavras que não são propriamente novas e que estranhamos porque são novas ao menos para nós, não faziam parte de nosso mundinho cotidiano. São as palavras das outras tribos, artes e ciências que não as nossas. E que vemos como ameaça ao nosso sossego porque seria muito mais cômodo continuar sabendo apenas o que acreditamos saber em vez de nos arriscarmos diante de outros saberes, o que nos obrigaria a ouvir — e procurar entender — os outros.
Às vezes são palavras antigas usadas em novos contextos, ou termos empoeirados que precisam de um polimento. Precisaremos querer aprender e experimentar um novo dicionário, um dicionário amoroso. Dicionário porque busca sentidos. Amoroso pelo que o amor tem de aceitação e também pelo que o amor tem de compromisso. Um dicionário que nos ajude a ter disposição para o diálogo e que aceite palavras-larvas, palavras que não voam e palavras dos outros. Para isso é preciso voltar o interesse para as coisas do chão, ter consciência dos resíduos que produzimos, vermos a nós mesmos como parte da natureza e não como seres apartados dela. Precisamos adotar um pouco a atitude do apanhador de desperdícios, maravilhar-nos com a idéia dos rios voadores, dar o devido valor à floresta úmida e lembrar-nos da origem comum das palavras economia e ecologia.
{É preciso disposição para um diálogo que aceite e compartilhe palavras-larvas, palavras que não voam e palavras dos outros}
Este é um convite a enxergar um futuro através de conceitos e nomes que emprestamos de múltiplas ciências, das artes e da tecnologia, de culturas diversas, de termos de outras tribos, e nomes ainda no estado de larvas. Precisa ser assim se quisermos que nosso pensamento se assemelhe não mais a uma limitada engrenagem e sim a uma complexa oresta com toda a sua riqueza de relações, seu funcionamento sistêmico, seu poder autor-regenerativo e, principalmente, sua capacidade de sustentar a diversidade, a vida e o futuro. Agora é a melhor hora para ir à floresta, aprender com ela e enxergar as palavras que nos levarão ao futuro. Enxergá-las não apenas envolvendo os conceitos que lhes dão origem, mas vendo-as aplicadas no território, fazendo sentido na vida real e na floresta. É hora de cultivar coletivamente palavras prósperas, duráveis e compartilháveis. Serão muitas. Serão milhares. Comecemos agora com estas três ou quatro dúzias de palavras, breve lista com uns poucos verbos e adjetivos e muitos substantivos, principalmente femininos que, por proximidade, interesse e compromisso, reaprendemos ou começamos a aprender em nossas andanças e conversas pelo Sesc Bertioga — e que escolhemos para iniciar este dicionário Amoroso do Futuro.
Água - S.F: Se diz que no início eram somente elas, depois é que veio o murmúrio dos corgos para dar testemunho em nome de Deus (Manoel de Barros)
Acessibilidade - S.F: Condição daquilo ou daquele que é acessível.
A palavra traz uma proposta de inclusão carregada de significados. Oferecer meios e equipamentos para que pessoas com mobilidade reduzida ou com de ciência possam alcançar lugares e experiências antes inacessíveis é uma forma de garantir direito à circulação, informação e qualidade de vida. No meio urbano, calçamentos, prédios com rampas e outras soluções têm-se tornado mais frequentes em museus, bibliotecas, espaços culturais e escolas. Na Reserva Natural do Sesc em Bertioga este cuidado permeia o programa educativo de visitas e imersões na Mata Atlântica. As trilhas permitirão a circulação de todos os públicos.
Agrofloresta - S.F: Neologismo que resgata antigos saberes e de ne uma prática de produção agrícola sustentável cada vez mais utilizada, que está ajudando a recuperar biomas como a Mata Atlântica.
É a arte de plantar combinando espécies agrícolas em meio a espécies de floresta nativa em uma mesma área. Essa técnica tem muitas vantagens. Uma delas é melhorar a produtividade na lavoura eliminando o uso de agrotóxicos e pesticidas, já que as espécies nativas atraem predadores naturais de larvas e insetos. Também permite aos agricultores a regeneração de porções de matas nativas em suas terras. Assim é possível aliar produção de alimentos com conservação da natureza. (ver bioma, biodiversidade, economia, educação, interdependência, Mata Atlântica, sistêmico)
Apanhador de desperdícios - S.F: Substantivo masculino criado pelo poeta pantaneiro Manoel de Barros (no poema O apanhador de desperdícios). Antecipa uma visão de mundo que dá mais valor à aparente insignificância das coisas do chão, na natureza, do que aos símbolos de uma era tecnológica, veloz e distante do chão.
{Uso a palavra para compor meus silêncios
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
E fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.}
Aprender - S.F: “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre” (Paulo Freire).
Verbo derivado do Latim ‘apanhar’, aprender ou ‘adquirir conhecimento’ é uma palavra associada a ação, esforço, movimento, com frequentes analogias a imagens ativas, como ‘colher’, ‘agarrar’, ‘tomar o conhecimento’. Aprender é, principalmente, um processo a partir de experiências, uma construção. Pessoas aprendem com experiências. Organizações buscam maneiras de aprender e disseminar conhecimento. Dizem os etimologistas que no Português do século XIII surgiu a palavra desaprender como variação de ‘desprender’, ‘soltar’, ‘desatar’. Como ninguém sabe tudo e estamos aprendendo sempre, para aprender é preciso apreciar os diversos saberes e conhecimentos, assim como dialogar com eles. Em tempos de transição para um mundo mais equilibrado nas relações entre seres humanos e de todos com o ambiente, talvez haja proveito em desaprender alguns conceitos para fermentar outros. A começar por desaprender de ver a natureza como “aquilo”, excluindo-se dela.
Arquitetura sustentável - S.F: Conceito que procura minimizar o impacto ambiental de construções com o uso mais eficiente de materiais, energia e espaço e a valorização de áreas verdes.
O conceito de arquitetura de baixo impacto ambiental está presente nos atuais conjuntos de apartamentos da unidade Sesc Bertioga. A organização dos novos conjuntos foi feita de forma a utilizar recursos naturais para obter índices adequados de conforto em local de grande umidade, quente e com constantes calmarias. A arquitetura desenvolvida cria áreas de sombra e ar fresco e favorece a ventilação cruzada, o que permite a adequada renovação de ar.
Avifauna - S.F: O conjunto das aves de uma região; a fauna ornitológica regional. Proteger a avifauna é um trunfo para conservar áreas naturais e até recuperá-las.
Aves são grandes polinizadores, reflorestadores natos. De voo em voo dispersam sementes que germinam e multiplicam o verde. O Sesc mantém, desde 1992, um projeto ambiental com esse nome. Do projeto nasceu o livro Aves de Bertioga, 2012, 2a ed. Edições Sesc São Paulo. Cristiane Demétrio e Luiz San lippo (Org.).
Biodiversidade - S.F: Em Ecologia é a diversidade de comunidades vegetais e animais que se inter-relacionam e convivem num espaço comum que pode ser um ecossistema ou um bioma.
Diversidade de vida é a síntese do significado da palavra. Surgiu da expressão “diversidade biológica” disseminada pelo ecólogo norte- -americano Thomas Lovejoy, em 1980, da qual derivou o termo moldado em 1985 pelo pesquisador inglês W. G. Rosen. Preservar a biodiversidade é proteger a riqueza e variedade de vida na forma de plantas, animais e microrganismos essenciais à manutenção do equilíbrio do planeta e do próprio ser humano.
Biofilia - S.F: Afetividade emocional inata dos seres humanos para com os fenômenos da vida; instinto de preservação.
Embora a definição do dicionário formal seja resumida como “instinto de preservação”, a palavra caiu na graça de pesquisadores e estudiosos de meio ambiente, em 1984, quando passaram a utilizá-la para interpretar o amor à natureza ou à vida.
Bioma - S.M: Vem do grego bios, ‘vida’ + oma, ‘massa’.
É uma grande comunidade de plantas e animais que ocupa uma região distinta de nida por seu clima e vegetação dominante. Pastagem, tundra, deserto, floresta tropical úmida e florestas de coníferas são todos exemplos de biomas. Biomas podem ser definidos como conjuntos de ecossistemas semelhantes que atingiram um ponto de estabilidade, ou clímax. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) lista os seis biomas de características distintas no Brasil: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. A restinga, zona de transição entre a floresta e o litoral – característica de onde se localiza o Sesc Bertioga – é um ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica.
Biosfera - S.F: Conjunto dos ecossistemas da Terra; ecosfera.
Conjunto das partes do planeta, incluindo regiões da litosfera, hidrosfera e atmosfera, onde existe ou pode existir vida. Em síntese, biosfera é a “esfera da vida” – nosso planeta, enfim – e sua íntima relação com os seres vivos, o que os inclui a todos. O ambientalista britânico James Lovelock foi ainda mais longe: acenou com a Teoria de Gaia, que determina que a Terra é um ser vivo e os seres humanos, seu sistema nervoso.
Cidade
{ - Na sua opnião, o que é mais importante numa cidade?
- O jardim - respondeu Tistu.} (Maurice Druon, em O Menino do Dedo Verde)
Comércio justo - S.M: Trocas comerciais feitas com a preocupação de promover a igualdade social, a proteção do ambiente e a segurança econômica.
Compostar - Verbo de aplicação cada vez mais necessária no cotidiano de residências e organizações, já que grande parte dos resíduos gerados no Brasil são orgânicos.
Compostagem é um processo de decomposição controlada de resíduos, conhecida há séculos, que transforma sobras de alimentos e de jardim, dentre outras, em adubo. Como ação do programa Lixo: Menos é Mais, do Sesc São Paulo, está em desenvolvimento a implantação de uma Central de Compostagem no Sesc Bertioga. Será um sistema para processar todas as sobras de alimentos e restos de podas da jardinagem. Há algumas formas simples de compostar nas residências, como os minhocários. O efeito direto é diminuir a produção de rejeitos que vão para os aterros, poupar recursos naturais e reintroduzir nutrientes no solo, em vasos, jardins e hortas.
Corredor ecológico - S.M: Faixa de vegetação natural, ou seminatural, que cria comunicação entre áreas naturais preservadas, suscitando o uxo de genes, de plantas e de animais.
Em síntese, é uma conexão vital, uma estrada para a vida. Os corredores ecológicos interligam importantes mosaicos de vegetação nativa que estão isolados. Desta forma, animais e plantas conquistam um território mais amplo para enriquecer seus genes, procriar, multiplicar-se. Os corredores também podem permitir o convívio das pessoas com a natureza, principalmente em espaços urbanos, na forma de praças e parques lineares, por exemplo.
Desaprender - Verbo. Às vezes é preciso desaprender para poder aprender.
Diálogo - S.M: Da definição clássica do substantivo com ideia de discussão de conceitos e opiniões em direção ao entendimento e à harmonia, a palavra agora também é entendida como técnica a ser praticada, estudada e ensinada.
“Mediação, negociação, processos circulares restaurativos, arbitragem, conciliação são práticas sistêmicas não adversariais que abordam os conflitos de modo a resolvê-los e transformá-los construtivamente”, propõe a Fundação Palas Athena, em São Paulo. A prática dialógica, portanto, desempenha um papel central na qualicação da escuta e entendimento mútuo. Exemplo disso é o chamado diálogo de saberes e conhecimento, que se estabelece numa relação de ensino-aprendizagem e um encontro do conhecimento cientíco, sistematizado, com o conhecimento ou saber popular fruto da experiência de vida.
Diversidade - S.F: Qualidade de ser diverso, diversidade, característica única, estranheza.
Eis aqui o caso de uma palavra que, depois de arejado o seu conceito, trocou de sinal. O termo, que já teve parte de seu significado com sinal negativo (“maldade, perversidade”), pela via da “contrariedade, contradição, desacordo”, hoje é quase um sinônimo de virtude. Diversidade, no sentido moderno de reconhecer e respeitar o que é diverso (em etnia, gênero, identidade sexual e opinião, por exemplo) é um conceito cada vez mais usado para denotar riqueza nas relações humanas.
Eco, a casa - Não é por acaso que as palavras ecologia e economia vêm de uma raiz comum, oikos, do grego, ‘casa’.
Ecologia, ramo da ciência que lida com a relação dos seres vivos com seus ambientes é uma palavra rela- tivamente nova, com menos de 150 anos. Economia, como administração da casa, é alguns séculos mais antiga. Mas os dois conceitos não se opõem. Pelo contrário. Questões de economia deveriam estar mais presentes na discussão ambiental e vice-versa — já que são decisões econômicas, resultantes do embate político, que determinam ações com impacto humano no ambiente.
Ecogênese - S. f: Modelo teórico de reconstituição da ambiência natural por meio do replantio de espécies vegetais remanescentes, aplicando um método de trabalho transdisciplinar, com participação de profissionais de várias áreas. Teoria desenvolvida nos anos 1940, por trabalhos dos botânicos Henrique Lahmeyer de Mello Barreto e Luiz Emygdio de Mello Filho e pelo paisagista Roberto Burle Marx. O paisagista brasileiro Fernando Chacel é um expoente da aplicação desse método em grandes projetos de recuperação ambiental e paisagística.
Ecossistema - S. m: Do grego oíkos, ‘casa’, ‘ambiente’ + sistema.
Em Ecologia é um sistema ou grupo de elementos interligados, formado pela interação de uma comunidade de organismos vivos ou bióticos (plantas, animais, bactérias) com o seu ambiente não vivo ou abiótico (rochas, água, solo, vento, energia do sol). Ou, ainda, é o sistema de relações mútuas entre espécies animais e vegetais que habitam uma região e seu vínculo aos fatores físicos e químicos desse ambiente. O termo foi adotado no mundo dos negócios para definir qualquer rede de interconexão.
Educação - S.F: “A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo.” (Nelson Mandela).
Educação Ambiental - S. f. “[...] processo educativo que deve ser direcionado para a cidadania ativa considerando seu sentido de pertencimento e corresponsabilidade que, por meio da ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas ambientais. ” (Fonte: Educação Ambiental como Política Pública. Marcos Sorrentino et al. 2005).
Felicidade - S. f. “Viver melhor não é apenas ter mais, mas sim ser mais feliz.” (Pepe Mujica).
Foresta úmida - S. f. (ver Mata Atlântica, restinga).
Interdependência - S. f. Dependência recíproca. Condição das relações entre todos os seres vivos (incluindo pessoas) e seu ambiente físico. A teia da vida. A floresta só é o que é por causa da incessante interação das formas de vida que a compõem. Os ciclos de manutenção e reprodução da vida se repetem graças à ação interdependente desses seres. Há espécies que dependem umas das outras para polinizar ou dispersar sementes. Outro exemplo são plantas que se livram do ataque de lagartas graças à ação de aves que são predadoras naturais de alguns insetos. A grande riqueza de uma floresta é a sua diversidade de formas de vida e a complexa rede de relações entre elas.
Lixo - S. m. “O que é bom para o lixo é bom para a poesia”, Manoel de Barros, trecho do poema I, dentro de Matéria de poesia.
Mata Atlântica - S. f. Conjunto de formações florestais e ecossistemas associados como restingas, manguezais e campos de altitude, que se estendiam originalmente por aproximadamente 1.300.000 km² ao longo do litoral em 17 estados do território brasileiro.
A breve definição do Ministério do Meio Ambiente não é suficiente para descrever a essência dessa importante floresta úmida. Local onde vivem mais de 20 mil espécies de plantas, 8 mil só encontradas lá, 298 espécies de mamíferos conhecidos, 992 espécies de aves, 200 de répteis, 370 de anfíbios, 350 de peixes. Trata-se de um hotspot, ou seja, uma das áreas mais biodiversas e ameaçadas do planeta. Hoje restam apenas 8,5% da área original desse santuário de vida.
Menos é mais - Expressão paradoxal que reforça o valor de escolhas minimalistas. Registrada pela primeira vez em poema do inglês Robert Browning, em meados do século 19, diz que um bom desenho pede simplicidade e clareza — o que, por extensão, se aplica a outras formas de expressão, como a escrita, e, principalmente, a arquitetura. A frase é associada com frequência ao arquiteto e designer Ludwig Mies Van Der Rohe (1886-1969). Síntese poderosa, dá nome ao programa que o Sesc implantou para reduzir a produção de resíduos em suas unidades. Criado para transformar atitudes dentro e fora da instituição, o Lixo: Menos é Mais prioriza a eliminação do uso de descartáveis e a destinação adequada de vários resíduos, entre inúmeras outras ações. O programa aplica o conceito dos 3 Rs: reduzir, antes de mais nada, reutilizar e reciclar.
{3Rs
Reduzir
Reutilizar
Reciclar}
Plano de manejo - S. m: Toda unidade de conservação precisa ter um plano de manejo, documento elaborado a partir de estudos interdisciplinares, em que consta a caracterização da área e de seu entorno e que de ne as normas de uso do espaço e de seus recursos, além de prever ações de proteção, visitação, educação ambiental, gestão e pesquisa. O plano de manejo da Reserva Natural Sesc em Bertioga envolveu pesquisadores e população do município em um trabalho interdisciplinar e participativo. O diálogo com mais de 300 pessoas e 50 instituições deu origem a vários planos e ações que resultaram em projetos de educação ambiental hoje em desenvolvimento no território.
Resíduo - S. m: remanescente, resto. Palavra-chave para entender o que chamamos de “lixo” e suas variações. Nossos resíduos recicláveis são, na verdade, matéria-prima, que volta à indústria passando por muita gente durante as fases de coleta, triagem e reciclagem.
Resiliência - S. f. “O importante não é o que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos com o que fazem de nós” (Sartre).
“Resiliência” é a capacidade de retornar à sua condição original depois de so er choques e pressões. É uma certa elasticidade. Conceito aplicado em diversas áreas do saber, como Física, Ecologia, Psicologia e Ciências Sociais. Vem do Latim resiliens, recuperar, recuar. Em Ciência dos Materiais é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida ao fim da tensão que causou sua deformação elástica. Em Ecologia é a capacidade que um ecossistema tem de responder a uma perturbação. Exemplo: a regeneração de uma floresta depois de sofrer interferência humana. A floresta, contudo, nunca se regenera a ponto de retomar suas condições iniciais. Numerosos estudos tratam do papel da resiliência, como habilidade pessoal e como processo, nos resultados de equipes esportivas de alta performance, em traumáticos processos de reorganização corporativa e até mesmo em atitudes que podem determinar a diferença entre a vida e a morte durante episódios extremos. Conceito de amplo espectro. Não saia de casa sem ele.
Restinga - S. f. Ecossistema associado às florestas de Mata Atântica, genericamente definido como zona de transição entre a floresta e o litoral.
Define-se como vegetação de restinga o conjunto das comunidades vegetais, sionomicamente distintas, sob influência marinha e marinha-fluvial. Nessa faixa o terreno faz uma transição que vai das condições mais arenosas e de maior salinidade do litoral aos solos drenados e ricos em nutrientes sob a mata fechada. A vegetação começa rasteira e com espécies herbáceas e subarbustivas, espalha-se em grupos de arbustos sobre áreas arenosas e cresce nas árvores da floresta baixa para fechar-se mais adiante como a densa oresta alta de restinga. Característica da área onde se encontra o Sesc Bertioga.
Rios voadores - S. m. São verdadeiros cursos d’água atmosféricos que alimentam o ciclo da vida na Amazônia. Eles se compõem a partir de grandes massas carregadas de vapor que se formam acima do Atlântico. Correntes de ar úmido transportam esses volumes para a região amazônica. A floresta funciona como uma imensa bomba hidráulica, empurrando continente adentro toda essa água, que desaba sobre a própria floresta. O ciclo interminável faz com que a evaporação pelo calor realimente os rios voadores, que seguem, então, para o oeste da América do Sul, parando na Cordilheira dos Andes e novamente caindo em forma de chuva, que alimenta os principais rios terrestres da Amazônia. Cientistas têm estudado a relação desse fenômeno com o desmatamento na Amazônia e a ocorrência de secas na região Sudeste. A relação entre a água produzida pela floresta amazônica e as chuvas que ocorrem em outras regiões do país apresentam um poderoso exemplo da interdependência entre ecossistemas.
Sistêmico - Adj. O chamado pensamento sistêmico, fortalecido a partir do século 20, é uma forma de abordar a realidade que se opõe ao chamado pensamento “reducionista-mecanicista” que emergiu a partir dos filósofos da Revolução Científica.
Mais aberto às subjetividades e à interdisciplinaridade, o pensamento sistêmico é um paradigma em construção. Aproxima-se mais das analogias da vida natural, como a riqueza de relações num ecossistema, do que da precisão dos encaixes de uma engrenagem. Na visão do filósofo francês Edgar Morin, uma concepção sistêmica do planeta exige uma integração e articulação de diferentes áreas do conhecimento. “Penso que tudo deve estar integrado, para permitir uma mudança de pensamento que concebe tudo de uma maneira fragmentada e dividida e impede de ver a realidade. Essa visão fragmentada faz com que os problemas permaneçam invisíveis para muitos, principalmente para muitos governantes” (Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, Edgar Morin, 2014).
Solidariedade - S. f. Comunhâo de interesses e responsabilidades, dependência recíproca.
Vem da mesma raiz de “sólido” e de “soldar”. A célebre enciclopédia de Diderot, de 1765, que divulgou o Iluminismo e influenciou a preparação intelectual para a Revolução Francesa, já definia solidário como “interdependente, completo, inteiro”, a partir de sólido, “denso, rme, indivisível”. Termo que em seu sentido jurídico traz a ideia de responsabilidade comum, no seu uso mais geral também aproxima-se dos significados de cooperação e consciência coletiva. Solidariedade social é um vínculo moral entre indivíduos de um grupo ou comunidade. O avanço das discussões ambientais lança o conceito para além das fronteiras nacionais, das gerações e das formas de vida. Surgem assim os contornos da solidariedade ecológica (estreita interdependência entre os seres vivos, entre si mesmos e com o ambiente) e intergeracional.
Trans - (o presente é trans) - O uso cada vez mais equente do prefixo latino trans (através de, para além de) já marca uma era de mudanças rápidas. O ilusório mundo organizado em caixinhas separando conceitos dá lugar a um movimento que se expande além das definições pré concebidas: transdiciplinar, transgênero, transgeracional, transmídia...
transversalidade - S. f. Qualidade de transversal.
Atributo do que ‘atravessa’ em oposição ao que é paralelo. Como uma avenida que é transversal a uma série de ruas e não paralela a elas. A palavra vem de “transverso”, que se refere a oblíquo, colateral, perpendicular.
Utopia - S. f. “Ela está no horizonte – diz Fernando Birri. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos pra ente. Por mais que eu caminhe, nunca irei alcançá-la. Para que serve e a utopia? Para isso mesmo: para caminhar.” (Eduardo Galeano, no livro As Palavras Andantes).