Postado em 07/11/2017
O Festival 40 Anos de Punk acontece entre 18 e 26 de novembro, no Sesc Pompeia, com algumas das primeiras e mais influentes bandas punks e pós-punks de São Paulo. Questions e Sugarkane (18/11), Ratos de Porão e Lixomania (23/11), Restos de Nada e AI-5 (24/11), As Mercenárias e Patife Band (25/11) são as bandas que se apresentam, encerrando com um especial "O Punk Não Morreu" (26/11), com Clemente, Mingau e Muniz na banda, e os vocais revezados por diversos artistas que cantaram no festival "O Começo do Fim do Mundo", em 1982.
A Eonline entrevistou alguns dos integrantes, que aproveitaram para relembrar seus dias no Sesc Pompeia, a importância do local para a cena do rock, e suas visões sobre o contexto atual da música punk.
A relação com o Sesc Pompeia
Ariel (à esq.), Clemente e Nonô, da banda Restos de Nada.
Clemente, vocalista do grupo Restos de Nada, conta suas primeiras experiências: “a primeira vez que eu entrei no Sesc Pompeia foi em 1982 pro festival ‘O Começo do Fim do Mundo’... Aliás, voltando na memória eu entrei pela primeira vez em 1975, olha só! Eu vim disputar um campeonato de futebol de salão e voltei anos depois pra tocar.”
Ariel, também do Restos de Nada, tem histórias parecidas. “O Sesc pra mim sempre foi meu quintal, vinha jogar bola aqui e tal. E em 1982, quando a Lina Bo Bardi inaugurou essa parte para show, a gente foi um dos primeiros a ocupar aqui com o punk. Eu toquei aqui com Os Inocentes e de lá pra cá a gente já se apresentou várias vezes, essa é a casa do punk mesmo. A relação dos punks com o Sesc Pompeia sempre foi de muita liberdade e respeito.”
Moreno, da Lixomania, confirma a visão de Ariel: “O Sesc para mim também sempre foi como um quintal, vim muitas vezes não só como músico, mas como frequentador em geral, aproveitando outros eventos, trazendo meu filho pequeno."
“O AI-5 (...) foi uma banda que durou de 78 a 79, mas é claro que, como todo mundo, a gente reconhece a casa, o berço, a importância do Sesc dentro do segmento punk”, afirma Fausto, guitarrista do AI-5.
A cena Punk
“O que me bateu no punk rock foi mais a atitude contra o ‘establishment’, o rock na época.”, diz Paulo Barnabé, da Patife Band.
Os artistas explicam um pouco as características do punk e o que levou o estilo a sobreviver até os dias de hoje. “A gente ocupou todos os centros urbanos, a gente não abriu mão disso. Por exemplo, o movimento hippie, que é anterior ao punk, foi para o mato, foi criar comunidade. A gente persistiu em ocupar os centros urbanos mesmo, os ‘downtowns’. E esse é o diferencial do punk, a gente assumiu toda essa sujeira que essa cidade tem e lutamos para melhorar sempre.”, afirma Ariel.
“É legal porque a gente vê que depois de tanto tempo, 40 anos, a nossa música ainda é relevante e ainda faz sentido. Toda essa cena musical influenciou muita gente”, diz Clemente.
O Punk no contexto atual
A veia contestadora e rebelde do Punk marcou os anos 1980 e elevou o gênero a uma das principais vertentes do rock:
“Pouca coisa dentro do rock 'n' roll persistiu tanto tempo assim [como o punk], mas hoje a relação é até melhor do que naquela época, porque hoje tem mais recursos, além de mais lugares para explanar a coisa toda, como motivação. Se [naquela época] era questão de desemprego, se era questão de alguma coisa que a gente não gostava naquele período, hoje não é diferente.”, defende Moreno.
Fausto demonstra a atualidade da música punk: “pode pegar as letras de antigamente, servem muito bem pros dias de hoje. Os temas são completamente atuais, ou piores (risos). O lance de continuar existindo o punk é que a gente vive numa sociedade, num país que dá motivo ainda para a música de protesto.”
Sandra Coutinho, das Mercenárias, e Paulo Barnabé, da Patife Band
Sandra Coutinho, das Mercenárias, dá outra visão: “a diferença da época pra hoje em dia [é que, hoje] o que tem é a música, antes o que tinha era uma atitude, uma postura. É inegável que caminhar com os punks no centro da cidade naquela época, toda de preto, causava alguma coisa muito forte e isso já não existe mais, porque tudo, depois de um segundo, tá simplesmente engolido. Por exemplo, se antigamente era bastante agressivo, reflexivo alguém andar com uma calça rasgada, hoje em dia isso não significa nada. A pessoa que usa uma calça rasgada tá simplesmente comprando em uma loja e achando bacana. Antes tinha uma outra coisa. Eu acho que pode ser uma comemoração, muitas pessoas vão vir porque são apaixonadas, podem até reviver alguns momentos. Outros, vão conhecer isso, que é o que acontece com as Mercenárias, a gente tem um público que tem até crianças de 5 anos e pessoas de 60 anos. Isso eu acho interessante em estar continuando a tocar”.
“A gente vê os eventos, os shows, o público punk é muito maior do que de outros estilos dentro do rock, então é totalmente atual”, conclui Fausto. E Moreno completa: “E a gente tem todos os motivos para continuarmos sendo punks”.
Confira a sessão de fotos exclusiva para a Eonline:
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Paulera na orelha!
Do punk ao metal extremo, playlist no perfil do Sesc no Spotify é dedicada à "Música Pesada Brasileira":