Postado em 22/08/2017
Por Antônio Carlos Miguel
Mesmo tendo como parceira intrusa a chuva que caiu forte durante o fim da tarde domingo, o concerto de Emiliano Sampaio e Soundscape Big Band, ao ar livre, no Deck do Sesc Pompeia, cativou o público que enfrentou o tempo abrigado sob um telhado entre os galpões. Por cerca de uma hora e 15 minutos, o compositor e arranjador paulistano de 32 anos, radicado há cinco anos na Áustria, onde se aprofundou no estudo do jazz, mostrou uma série de composições inspiradas em sua experiência europeia. Como explicou através da apresentação, aquelas são músicas que foi criando a partir de sua primeira experiência fora do Brasil, como uma espécie de diário de viagem, quase todas com nomes de cidades por onde passou e trabalhou.
Emiliano Sampaio e Soundscape Big Band. Foto: Nego Júnior.
Também guitarrista e trombonista, em sua participação no Jazz na Fábrica, ele atuou como regente e teve seu repertório valorizado pelos 17 instrumentistas da paulistana Soundscape Big Band. Fruto do talento e dos entrosamento dos músicos e também de muitos ensaios, a partir das partituras escritas por Sampaio, em temas que transitam na fronteira entre o clássico e o jazz.
Na abertura, “Graz”, dedicada à cidade austríaca onde vive atualmente, está entre as de estrutura mais clássica. O mesmo vale para a segunda, “Paris”, evocativa e romântica, e também com sabores impressionistas e ecos de Ravel em passagens algo “emboleradas" segundo o mestre francês. Em seguida, foi a vez de um tema mais soturno, que, segundo ele, espelha uma temporada na nublada e chuvosa segunda maior cidade da República Tcheca, “Brno”. Emiliano Sampaio, que disse até hoje não saber exatamente qual a pronúncia desse nome com apenas a vogal “o" no fim - grafia devidamente checada por esse escriba através de um site de busca -, comentou também o quanto a tarde de domingo paulistano remetia à experiência tcheca.
Emiliano Sampaio e Soundscape Big Band. Foto: Nego Júnior.
A turnê musical prosseguiu numa composição escrita por encomenda da rádio de Frankfurt - “Cada cidade alemã tem sua rádio com uma big band”, contou -; e ainda, entre outras, “Solo for Zagreb” (na Croácia); e “It's an Amsterdan waltz”. Para o bis, após esse roteiro europeu, ele reservou uma inédita, dessa vez dedicada à cidade natal. Fiel ao título, “São Paulo” foi a música de marcação rítmica mais forte, de temática mais urbana, procurando traduzir em sons a dinâmica da maior metrópole da América do Sul. Como as anteriores, a partir de uma partitura, mas com espaço para solos de alguns dos músicos da Soundscape Big Band. Esta, vale frisar mais uma vez, uma afinada e afiada orquestra de formação jazzística, com seus naipes de madeiras (Josué dos Santos, Samuel Pompeo, Vítor Alcantara, Jeferson Rodrigues e Luiz Neto), trombones (Paulinho Malheiros, Jorginho Neto e, no trombone baixo, Jaziel Gomes) e trompetes (Junior Galante, Daniel D’Alcantara, Sidmar Vieira e Paulinho Jordão), mais piano (Edinho Santana), guitarra (Djalma Lima), baixo (Bruno Migotto) e bateria (Jônatas Sansão).
Composições e interpretações que também prepararam corações e mentes para a epifania musical que se seguiu, a partir das 18h, no Teatro, na segunda apresentação do pianista e compositor sul-africano Abdullah Ibrahim.
Antonio Carlos Miguel é jornalista e crítico musical, mantém uma coluna no site G1.
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Veja as fotos da apresentação de Emiliano Sampaio e Soundscape Big Band no Jazz na Fábrica: