Postado em 17/08/2017
Todo ano o dicionário Oxford usa uma série de softwares pra coletar e contar palavras de livros, jornais, revistas, blogs e até da língua falada. Anualmente são coletadas e analisadas cerca de 150 milhões de palavras na língua inglesa e, desse conjunto, a palavra que mais se destaca é eleita como a palavra do ano do dicionário Oxford. Em 2016, registrando um aumento de 2.000% no seu uso, a palavra pós-verdade foi eleita.
Pós-verdade é um termo usado para expressar uma situação em que apelos emocionais e a manipulação de crenças pessoais são mais relevantes para moldar a opinião pública do que dados e fatos objetivos. E isso ganhou destaque em 2016 especialmente pelo uso dessas táticas em discursos durante a votação da saída da Inglaterra da União Europeia, o BREXIT, a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos e o impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff. Essa política da pós-verdade é conhecida também como política pós-fatual.
Quando usamos o pós nessas palavras, mais do que falar de um tempo que vem depois de outro, como pós-almoço, nos referimos a uma situação em que a verdade e os fatos foram superados, e pouco importam.
Isso não é algo novo no mundo da política, que já teve tantos períodos em que as disputas se pautavam muito mais pela eficácia e impiedade dos discursos do que por qualquer moralidade. E isso fica ainda mais intenso em um mundo em que as bolhas criadas por redes sociais são espaços em que só falamos com gente que pensa mais ou menos como nós, e é cada vez mais fácil moldar discursos para guiar as emoções para onde se desejar.
Apesar de não ser uma prática nova, a ligação entre pós-verdade e o Big Data (a capacidade de processar e analisar um número absurdo de informações ao mesmo tempo) estão revolucionando o mundo da política, e com isso o dia a dia, as liberdades, as disputas e a arte.
Gustavo Sarti é sociólogo especialista na relação entre as pessoas e a tecnologia e educador de tecnologias e artes do Sesc.