Postado em 06/07/2017
A história do choro começa com a história do Brasil. Os ritmos europeus, como a polca e a quadrilha, encontraram a música negra no Rio de Janeiro. O nome "choro" não tem origem definida, mas virou sinônimo da roda que misturava trinca flauta, violão e cavaquinho, e mais tarde, bandolim, clarinete e saxofone.
Todas as terças de julho, no Sesc Pompeia, acontecem shows gratuitos de choro. A primeira apresentação da série foi a do cavaquinista Messias Britto, no dia 4. Confira no vídeo abaixo um trecho da sua apresentação:
Nos dias 11 e 25 é a vez do Clube do Choro de São Paulo e no dia 18, o flautista Antonio Rocha. Entrevistamos o percussionista Yves Finzetto*, um dos diretores do Clube do Choro, que comentou sobre o panorama do gênero em São Paulo.
Yves Finzetto. Foto: Stela Handa.
Um sonho antigo
Os chorões e choronas de São Paulo se abrigavam nos bares, rodas e ambientes escondidos na cidade, mas até 2015 não havia um clube paulistano. "Existem Clubes de Choro em Brasília, Santos, Juiz de Fora, São Luis do Maranhão, Paris, Londres, Tóquio e até mesmo em Tel Aviv. Os chorões paulistanos ressentiam-se muito da ausência de um Clube do Choro na cidade" explica Yves.
Em 2015, depois de muitas mobilizações dos artistas e conversas com o então prefeito Fernando Haddad (2012 - 2015), e o Secretário Municipal de Cultura, Nabil Bonduki, o Teatro Municipal da Moóca Arthur Azevedo foi destinado a abrigar as atividades do Clube paulistano como parte de sua programação. Todos os sábados, rodas de choro aconteciam no teatro gratuitamente, além de diversas atividades educativas. Foram mais de 37 shows, 54 rodas, 15 palestras e workshops e mais de 750 músicos, entre eles convidados de fora de São Paulo, como Hamilton de Holanda, Rogério Caetano e Grupo Ordinarius.
Apesar do sucesso de público e imprensa, em 2017, devido a cortes orçamentários, o Clube teve suas atividades suspensas. "A gestão Doria promoveu um congelamento de 47% dos recursos da Secretaria Municipal de Cultura. O orçamento restante cobre apenas atividades de custeio, como pagamento de funcionários, manutenção, limpeza e segurança dos equipamentos culturais. Ou seja, o corte inviabiliza a realização das atividades-fim da Secretaria: a programação artística e as atividades de formação" lamenta o diretor.
Apesar do ritmo nunca ter dependido de recursos públicos para sobreviver, e ter atravessado séculos em grupos e rodas espalhados organicamente pela cidade, ter um ponto de referência é importante para levar essa parte da cultura nacional para outros públicos. "O apoio do poder público para a manutenção de um centro de excelência específico para o gênero é algo com poder amplificador incomensurável. Sem a sede, perde-se o ponto referência e a possibilidade de um trabalho continuado de maior musculatura" completa Yves.
"É notório que a grande escola do pandeiro brasileiro, uma das que mais exigem do músico, é o Choro" comenta Yves ao contar o começo de sua relação com o ritmo, na antiga Universidade Livre de Música. Com o surgimento do Clube de Choro, os músicos do gênero se organizaram em uma agenda, com planos de execução e representantes para dialogar com o poder público.
O apoio da comunidade artística é o que fortalece o grupo. "O Clube conta com a participação, o apoio e o trabalho de diversos músicos da cidade. É o caso destes shows no Sesc Pompeia, produzidos pelas parceiras e amigas Roberta Valente e Mariza Ramos"
*Yves Finzetto é músico, produtor cultural e pesquisador na área de políticas públicas de cultura. Mestre em Estudos Culturais (EACH-USP).
Confira a seguir o vídeo produzido na ocasião em que o Clube do Choro completava 1 ano de existência: