Postado em 27/06/2017
O que caracteriza um filme como paulista, mineiro, capixaba, amazonense...brasileiro? Quais são as fronteiras que delimitam essas definições? Como se mede a o grau de origem de um filme? Definitivamente, há mais perguntas do que respostas.
Quando olhamos os 224 filmes inscritos em São Paulo para participarem da fase estadual da MOSTRA SESC DE CINEMA, articulada em todo Brasil pelo Departamento Nacional do Sesc, descobrimos que fronteiras são construções, não barreiras. As pessoas circulam, as ideias circulam...e os filmes precisam circular!
Encontramos um universo heterogêneo. Filmes sobre diversos assuntos, propósitos, necessidades e vontades. Chamou atenção a urgência em falar sobre temas contemporâneos e resgatar histórias para que mudemos não só o presente e o futuro, mas o próprio passado. Já não há espaço para a história única. Já não temos somente a versão do vencedor. Já nem temos mais a ideia de que houve um vencedor. Assim como já não há perdedores. Temos vozes e agora buscamos o diálogo.
A seleção de filmes apresentada nesta MOSTRA SESC DE CINEMA PAULISTA não deixa de refletir o hibridismo de todas as produções inscritas e dos pontos de vista de nós curadores, designados para a dor e a delícia de construir um panorama dessa recente produção audiovisual independente. Dividi essa tarefa com a Graziela Marcheti, programadora de cinema do CineSesc, e com o cineasta Jeferson De.
Tentamos trazer as urgências que sentimos nos filmes. A urgência em denunciar violências de gênero, cor, sexo. A urgência em falar do desastre ambiental que estamos promovendo enquanto caminhamos para uma vida cada vez mais consumista. A urgência em discutir e mudar a realidade violenta que permeia a ocupação do espaço público e o direito à moradia. A urgência em resgatar histórias que podemos considerar felizes. A urgência em experimentar linguagens. A urgência em questionar. A urgência em falar. E, sobretudo, a urgência em propor e promover mudanças.
Nesse sentido, a Mostra é um reflexo das ações desenvolvidas pelo Sesc em âmbito estadual e nacional, que busca promover a linguagem audiovisual em suas diferentes experiências (difusão, mediação, criação, produção e pesquisa), colaborando para a formação do olhar crítico e a ampliação de referências que possam enriquecer a fruição das obras artísticas.
Considerando que, segundo dados do IBGE, o Brasil é um país onde mais de 90% dos municípios não possuem salas (tradicionais) de cinema, é importante fomentar ações que possam suprir essa demanda e levar ao público a linguagem audiovisual em formatos coletivos, para além da televisão e internet, proporcionando o encontro dos filmes com as pessoas.
É urgente derrubar os muros e fazer circular!
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Talita Rebizzi
Cineasta e Assistente da Gerência de Ação Cultural do Sesc para Cinema