Postado em 30/05/2017
O Sesc em São Paulo participa nos dias 19 e 20 de agosto da terceira edição da Jornada do Patrimônio, iniciativa que promove a visitação em imóveis históricos por toda a capital paulista, além de oferecer roteiros, palestras, oficinas e apresentações artísticas.
Dentro da programação do Sesc na Jornada do Patrimônio o Sesc Consolação irá realizar o passeio Saracura: Um Quilombo no Centro de São Paulo, no dia 19/08 às 9h30, que visita o bairro do Bixiga para falar da memória dos quilombos em São Paulo. Em maio deste ano acompanhamos este roteiro quando foi realizado pelo Sesc Santana e reunimos alguns registros de atividades do Sesc para refletir sobre essa temática.
Em cada ponto do trajeto a surpresa de uma história apagada ou por vezes contada de outra maneira. As contradições e os personagens revelados durante o roteiro realizado no dia 13 de maio pelo Sesc Santana em parceria com o coletivo SP Safari, dispararam diversos questionamentos. Onde encontramos informações sobre a história afro-brasileira? Quais são os lugares e os personagens marcantes na história do povo negro em São Paulo? O que significa a palavra quilombo? O que é um Quilombo Urbano? É possível falar em memória dos quilombos em São Paulo?
A palavra quilombo origina-se do quibundo "Kilombo", significando acampamento, arraial, povoação, ou ainda união e exército. Mais do que esconderijos de escravos, os quilombos são entendidos como espaços de resistência. Espaços não apenas rurais, mas também citados em áreas urbanas. O Bixiga, por exemplo, tem sua origem no Quilombo do Saracura.
O passeio, que foi mediado pelos pesquisadores João Carlos Kuhn e Patrícia Oliveira, procurou resgatar alguns dos quilombos de São Paulo, espaços de identidade ainda hoje reinventados. Saindo da Praça da Liberdade, antigo palco de torturas e enforcamentos na época da escravatura, o roteiro passou pelo Viaduto do Chá, o Largo São Francisco e o Largo da Memória para contar um pouco da história dos negros em São Paulo com destaque para alguns personagens importantes como o escritor, advogado e abolicionista negro Luís Gama, e o escravo Tebas que transformou-se em um habilidoso arquiteto e construtor.
No Bixiga os participantes estiveram na famosa Escadaria do Bixiga que divide a parte alta e baixa do bairro, e procuraram os vestígios do rio Saracura, hoje recoberto pelo asfalto. O roteiro revelou um pouco da trajetória do povo negro no bairro que tem hoje sua representatividade mais forte na Escola de Samba Vai-Vai, onde o passeio terminou ao som do famoso samba de Geraldo Filme.
O que ficou foi a certeza de que a memória do povo negro sempre pulsou forte mesmo sob os nomes e as histórias oficiais. Assim como o Saracura e os outros rios hoje recobertos pelo asfalto na metrópole, as camadas de esquecimento sobrepostas não foram capazes de impedir que esta narrativa transbordasse toda a luta, sofrimento, resistência, força e beleza da cultura afrobrasileira.
O MUMBI – Museu Memória do Bixiga, em parceria com Instituto Bixiga de Pesquisa, Formação e Cultura Popular e o Estúdio CRUA , apresentou uma exibição e bate-papo com a equipe do projeto Bixiga Existe no evento "13 na Treze".
Por todo o bairro do Bixiga, a programação especial contou com oficinas, intervenções artísticas e apresentações musicais. O grupo Ilú Obá de Min realizou a tradicional lavagem da Escadaria do Bixiga em um ato simbólico de protesto contra a data que marca uma falsa abolição do escravos no Brasil.
Um dos principais quilombos urbanos de São Paulo era o Quilombo Saracura, hoje o bairro do Bixiga, ao redor das capoeiras e capinzais do Tanque do Reúno e onde hoje está a Praça 14 Bis. O Vale do Rio Saracura era um lugar de batuques , tiriricas, levanta poeiras e festas religiosas.
Entre janeiro e fevereiro desse ano, as documentaristas Marcia Mansur e Marina Thomé , do Estúdio CRUA, estiveram no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc em São Paulo ministrando o curso "Webdocumentário, Patrimônio Cultural e Memória". Em seis dias, os 18 participantes mergulharam na história e na vida do bairro para construção de um documentário interativo.
O Bixiga é um local de muitos sotaques, de encontros de culturas, e ainda hoje recebe boa parte dos imigrantes que chegam a São Paulo. Mas antes destes diversos povos se mesclarem neste caldeirão cultural que é o bairro, os negros já habitavam a região formando um grande quilombo urbano nas margens do rio Saracura, hoje canalizado embaixo da Avenida 9 de Julho. A Escola de Samba Vai-Vai, originalmente um cordão carnavalesco, está intimamente ligada à história dos negros no Bixiga, e isto se retrata na entrevista realizada para o projeto com o Fernando Penteado, um dos fundadores e presidente da Vai-Vai.
Se o Bixiga é uma colcha de retalhos feita de diversas culturas, memórias e vivências, o webdoc “Bixiga Existe” é um mosaico de visões de apaixonados pelo bairro. Agora, se o Bixiga aparece com outro nome oficial nos mapas urbanos atuais, ele resiste cada vez mais na memória, no imaginário e no cotidiano de seus moradores. E agora o Bixiga também existe nas telas, levado ao mundo virtual neste webdocumentário realizado de forma coletiva. Sob a bênção de Nossa Senhora da Achiropita e de Oxalá, ao som da bateria da Vai-Vai, os rios continuam correndo abaixo do asfalto.
O Centro de Pesquisa e Formação do Sesc em São Paulo também realizou em junho deste ano o curso "Território e Identidades Quilombolas - Políticas Públicas e Turismo Étnico", que buscou apresentar a construção do conceito quilombola e o desdobramento desse no plano conceitual, político e normativo.
Historicamente, o grupo étnico quilombola já assumiu diferentes sentidos. Numa perspectiva da escravidão no Brasil, foram identificados como negros fugidos, na (re)construção da história do negro brasileiro construída pelo movimento negro foram escolhidos como símbolo de luta e resistência. Entretanto, somente na Constituição de 1988, esses grupos tornam-se sujeitos de direito.
Seja como terras de preto, campesinato negro, comunidades remanescentes de quilombos ou quilombolas, comunidades negras rurais, ou quilombolas, essa população está inserida num campo de disputa, pelo seu território, sua sobrevivência e efetivação de seus direitos.
O curso, de diferentes perspectivas, conceitos e determinações legais foi desenvolvido através de aulas expositivas e dialogadas sobre o conceito de quilombo, território, direito e turismo étnico, da apresentação de dados socioeconômicos das comunidades quilombolas, da análise do Programa Brasil Quilombola e de uma visita técnica na comunidade de Ivaporunduva, no Vale do Ribeira (SP).
Quer conhecer ainda mais sobre os quilombos? Que tal vivenciar o turismo de base comunitária realizado pelos moradores das comunidades quilombolas no Vale do Ribeira - SP ?
O Turismo Social do Sesc São Paulo realiza algumas excursões para a região, fique atento na programação! Enquanto não embarca nesta experiência pode conhecer neste vídeo a seguir um pouquinho sobre o trabalho desenvolvido na região.