Postado em 05/04/2017
A exposição “Guilherme Vaz | uma fração do infinito”, em cartaz no Sesc Pompeia, de 5 de abril a 2 de julho de 2017, organizada por Franz Manata e Saulo Laudares, traz uma retrospectiva de 50 anos da produção do multiartista Guilherme Vaz.
Em 2013, Franz e Saulo entrevistaram Guilherme Vaz para o podcast Arte Sonora. A partir dessa entrevista, surgiu a ideia da retrospectiva, que apresenta a obra do artista, desde o início de sua produção, no final dos anos 1960, até os dias atuais.
Exibida pela primeira vez em 2016, no Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro), a mostra reúne instalações, objetos sonoros, desenhos, partituras, performances, instruções e músicas, além de um vasto conjunto de imagens, textos e documentos.
A exposição acontece na Área de Convivência do Sesc Pompeia, em versão ampliada com um projeto adaptado por André Vainer, que integra as obras de Vaz à arquitetura de Lina Bo Bardi, permitindo ainda a inclusão de novos trabalhos e peças reproduzidas em escala maior do que as expostas no Rio de Janeiro.
Nascido em 1948, em Aguari, MG, Guilherme Vaz desenvolveu trabalhos como artista multimeios, músico experimental, maestro e pesquisador, sendo um dos pioneiros da arte conceitual e sonora no país, e é ainda o responsável pela introdução da música concreta no cinema brasileiro.
No final da década de 1960, Vaz se uniu à então emergente arte conceitual carioca, articulada em torno das atividades do Museu de Arte Moderna e exposições como o Salão da Bússola (1969). Integrou importantes mostras internacionais, como “Information” (1970), no MoMA, e a VIII Bienal de Paris (1973), e a polêmica “Agnus Dei” (1970), realizada na Petite Galerie (RJ).
No universo do cinema, realizou as trilhas sonoras dos filmes “Fome de amor” (1968), de Nelson Pereira dos Santos, na primeira experiência de música concreta no cinema nacional, e “O anjo nasceu” (1969), de Júlio Bressane, ambos premiados no Festival de Brasília. Em sua carreira, produziu trilhas para mais de 30 longas-metragens, ganhou nove prêmios e estabeleceu parcerias com importantes cineastas, como Bressane e Sérgio Bernardes.
Como músico e maestro, Vaz transita entre música de concerto, concreta, experimental, etimológica e com o jazz, aprofundando-se na pesquisa com a música popular e flertando ainda com a MPB. Participou da fundação do Grupo de Compositores da Bahia, organizado por Ernst Wiedmer, e criou com Vitor Assis Brasil o grupo Calmalma de Jazz Livre (1967), que produzia jazz de vanguarda com experimentação e improvisação musical. Foi convidado para a gravação do disco e da turnê “Água do céu-pássaro” (1975), de Ney Matogrosso, que apresenta sonoridade permeada por elementos da natureza, e também ampliou a linguagem musical ao desenvolver o que chamou de “música corporal”.
Guilherme Vaz acredita que existem dois tipos de artistas, os que se relacionam com o “Leste” e os que se relacionam com o “Oeste” do mundo. Nascido no interior de Minas Gerais, o artista se identifica com a vertente que se interessa pelo Oeste.
"Durante todo o período em que eu estive fora do circuito oficial da arte, eu estive trabalhando. Agora faça uma reparação geográfica, existe uma tendência de artistas que olham para o Leste e de outros que olham para o Oeste. Pessoas que tendem para o Leste vão para Paris, Roma, etc., o leste do mundo, a civilização anterior. Pessoas que se interessam pelo desbravamento da América e para o mundo indígena tendem para o Oeste. Esses dois eixos são complementares, apesar de dialéticos e distintos."
VAZ, Guilherme. Arte sonora: podcast #01– Guilherme Vaz . 2013. Rio de Janeiro. Entrevista concedida a Franz Manata e Saulo Laudares.
O crescente formalismo da arte conceitual fez com que Guilherme se afastasse do circuito oficial das artes. Durante mais de vinte anos, entre o final da década de 1960 e o início dos anos 2000, o artista se dedicou a investigar as raízes culturais do povo brasileiro, convivendo com sertanejos no Centro-Oeste e os indígenas no Norte do país.
Essa vivência antropológica lhe possibilitou realizar uma série de partituras, concertos, desenhos, instalações, ensaios textuais, pinturas indígenas, documentários e mais de dez álbuns musicais. Dessa produção, destaca-se sua série de pinturas feitas em conjunto com o indígena Carlos Bedurap Zoró (ver abaixo), o concerto Música em Manaos realizado no Teatro Amazonas, 1998, juntamente aos índios da tribo Gavião-Ikolem e a Orquestra Filarmonica Bielorrusa e sua ampla pesquisa sonora, posteriormente editada em mais de dez álbuns.
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