Postado em 30/03/2017
Oferta de cursos de curta duração reflete importância da educação não formal como meio de agregar novos conhecimentos e interesses
Ilustração: August Macke
Das formas de percepção do espaço urbano paulistano às diferentes vertentes do flamenco, da história social da arte à obra de William Shakespeare, da liberdade literária hispano-americana a uma introdução à ideia de arquitetura popular. Parece um universo muito amplo, mas sem sair da capital paulista é possível participar de cursos, palestras e atividades educativas não só sobre esses temas, mas também sobre outros ligados a cultura, história, artes, filosofia, literatura e diversas outras áreas do saber. Na forma de complemento ou de introdução a novos interesses, esses cursos, geralmente breves, refletem uma busca cada vez maior por uma expansão de conhecimentos e interesses.
Além de o aumento na oferta e nos tipos de cursos de curta duração ampliar as chances de diferentes públicos encontrarem algo que lhes agrade, há também uma extrapolação em relação às “caixinhas de saberes”, observa a doutora em educação Valeria Aroeira Garcia, autora do livro Educação Não Formal Como Acontecimento (Editora Setembro, 2015): “Esse aumento tem relação com o maior acesso à informação e divulgação, inclusive com o papel que as redes sociais têm assumido nos últimos tempos. As pessoas ousam aprender assuntos, temáticas e práticas variadas, seja por curiosidade, seja por desejo, sem necessariamente vislumbrar uma aplicação prática e profissional imediata, por exemplo”.
Assim, se há algum tempo as aprendizagens estavam ligadas principalmente à profissão, em que se ensinava algo para a vida prática e profissional, ou aos chamados hobbies, em que se aprendia algo por prazer pessoal, hoje os hobbies se relacionam cada vez mais com diferentes práticas, inclusive as profissionais. “Temos maiores relações e usos entre o que sabemos, aprendemos e fazemos, sem que necessariamente um aspecto venha antes dos demais. Esses diferentes cursos, em muitas situações, nos ajudam ao mesmo tempo a saber e fazer, e a fazer e saber, tendo prazer no que se faz e se aprende”, esclarece Valeria.
Como reflexo desse frescor na maneira de enxergar a aquisição de conhecimentos, na capital paulista a oferta de cursos, palestras, seminários, ciclos de discussões e atividades do tipo só cresce, seja em centros culturais, museus e outros espaços de ensino em instituições públicas ou privadas, como o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), o Museu da Imagem e do Som (MIS), o Centro Cultural São Paulo, a Casa das Rosas, a Casa do Saber, o Centro Cultural B_arco, a Escola São Paulo e o Espaço Cult. No Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc, onde são oferecidos cursos de curta duração em áreas como linguagens artísticas, educação, arte e tecnologias, cultura e cidade, e gestão cultural, muitas vezes, esses interesses geram desdobramentos mesmo após o fim do curso. “Vários grupos de estudos e pesquisas já se formaram entre os frequentadores do Centro de Pesquisa e Formação, proporcionando não só um desenvolvimento pessoal, mas ações coletivas em diferentes setores da sociedade”, informa a coordenadora de programação Rosana Catelli. Rosana diz que a educação não formal – aquela que envolve processos formativos para além dos escolares – consegue atender a um público bastante amplo, desde quem ainda está no sistema de ensino formal até quem já deixou a escola ou a universidade e quer se atualizar e refletir sobre sua prática profissional, ou ainda os que desejam simplesmente aprender sobre determinado tema, encontrar um espaço de diálogo sobre sua área de interesse e se envolver com novas temáticas e perspectivas. “Numa cidade como São Paulo, proporcionar um espaço para o encontro de pessoas com interesses variados é um propósito muito importante para a convivência na diversidade”, completa.
Conhecimento amplificado
Além da ampliação de horizontes teóricos e práticos, cursos livres trazem também uma motivação de sociabilidade, afirma a professora do Programa de Mestrado em Educação do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal) Renata Sieiro Fernandes. “As motivações são muitas, tanto a ampliação de horizontes teóricos e práticos quanto o desejo de estar junto, sentir-se humano e construir relações, como o de fazer parte de algo que pode ser um sonho e se tornar uma realidade que transforma o mundo de forma coletiva”, analisa. Renata lembra que esses cursos também complementam ou são alternativa a programas que demandam mais investimento de tempo na formação. “A realidade e suas problemáticas são muito complexas e os cursos universitários não dão conta de formar o profissional para o campo em todas as suas dimensões. Cursos de formação mais curtos podem ajudar a atender a essas demandas mais urgentes e atuais, ao apresentarem ferramentas teórico-conceituais e exemplos práticos que embasam a construção das ações sociais e comunitárias”, completa.
Ao mesmo tempo, essa busca por atividades de curta duração que possam vir a fazer sentido em diferentes áreas e momentos da vida de cada um nem sempre é linear, lembra Valeria. “Não é raro fazermos algo por curiosidade ou prazer que, de tão significativo, acaba por interferir em outros âmbitos da nossa vida. A relação não se estabelece apenas e necessariamente de forma direta e linear, em que uma necessidade é atendida por meio desse ou daquele curso e pronto”, reforça. “Isso acontece, por exemplo, quando há a necessidade do aprendizado de um idioma ou uma técnica específica para atender a uma demanda profissional, mas não se esgota nisso. Se algo está sendo aprendido, já estamos fazendo uso disso, e esse aprendizado já nos transforma em vários aspectos.”
Essa pluralidade, ressalta Valeria, é um dos pontos mais interessantes no campo da educação não formal. “Estamos sempre aprendendo, e de diferentes formas, e em alguns momentos queremos aprender ao mesmo tempo um tanto de coisas que nem sempre parecem conversar. Cursos, oficinas e vivências no campo da educação não formal são mais uma forma de lidar com essa curiosidade e vontade de saber, junto com as possibilidades criativas que tudo isso pode nos oferecer”, detalha. “Ao caminharmos por diferentes saberes, as relações estabelecidas entre esses conhecimentos são ímpares, assim como o que se pode criar a partir delas.”
Algumas das atividades, cursos, palestras e ciclos oferecidos pelo Sesc em abril
Introdução à história social da arte Pintura, Cinema e Fotografia
Sesc Pompeia
5/4 a 21/6. Quartas, das 14h30 às 17h30
O curso apresenta algumas das principais produções artísticas dos séculos 19 e 20, com base em seus contextos histórico-sociais no diálogo multidisciplinar. As discussões abordam as construções e representações da realidade nas artes visuais, fazendo paralelos com a fotografia e o cinema.
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Novos Estudos: Arquitetura Popular
Centro de Pesquisa e Formação Sesc
26/4. Quarta, das 19h às 21h
A mesa aborda a noção de “arquitetura popular”, tema que tem sido objeto de importantes debates, tanto na construção discursiva como nas dimensões concretas da realidade urbana, partindo da referência à produção e à reflexão do arquiteto Vilanova Artigas e das experiências de profissionais que, ao longo dos anos, retomaram e atualizaram tal herança.
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Spike Lee - Cinema, arte e resistência
Sesc Belenzinho
13/4 a 4/5. Quintas, das 19h às 22h
Importante nome do cinema mundial, nos últimos 30 anos, Spike é responsável por filmes sobre a condição dos afro-americanos na sociedade contemporânea. O curso aborda aspectos biográficos do diretor, contextualizados com sua obra e suas referências, análise fílmica e um aprofundamento sobre a estética, a fotografia, a criação de personagens e a montagem, que se tornaram marcas do cineasta.
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Shakespeare para todos...
Centro de Pesquisa e Formação Sesc
24/4. Segunda, das 19h às 21h
Por que Machado de Assis escreveu que William Shakespeare deveria ser chamado para reconstituir a espécie humana caso ela fosse extinta? Por que Harold Bloom considera o Bardo o homem mais inteligente que já existiu? O que fez de uma simples frase sua a mais conhecida de toda a história da literatura? Neste encontro, serão tratadas essas questões, apresentando uma visão geral – com detalhes reveladores – da vida e da obra do escritor mais cultuado e traduzido em todo o mundo.
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Laboratório Secreto (Invenção na Literatura Hispano-Americana)
Sesc Pinheiros
13/4 a 4/5. Quintas, das 19h às 22h
O curso apresenta um passeio criativo pelos gêneros literários acompanhado de leituras e exercícios de escrita em módulos mensais. Em abril, será oferecido o módulo Conto, em que são lidos contos fundamentais de Jorge Luis Borges (Argentina), Julio Cortázar (Argentina), Mario Levrero (Uruguai), Roberto Bolaño (Chile), entre outros. Exercícios criativos explorarão o gênero.
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noticiMAPA - Jornalismo, Cartografia e Direitos Humanos
Sesc Campo Limpo
11/4 a 27/6. Terças e sábados, das 14h às 17h
1/7. Sábado, das 14h às 18h
A ação multimídia aposta na produção de conteúdos híbridos e em diferentes linguagens com base na apropriação das ferramentas do jornalismo e da cartografia para identificar e apontar iniciativas e locais de memória na luta pela garantia dos Direitos Humanos na área de influência do Sesc Campo Limpo. O objetivo é promover o debate sobre direitos humanos no território do Campo Limpo.
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Fotografia e cidade: Narrativas Visuais sobre São Paulo
Centro de Pesquisa e Formação Sesc
18/4 a 9/5. Terças, das 19h às 21h
O ciclo discute as diferentes formas de representação e percepção do espaço urbano em São Paulo, a partir dos trabalhos desenvolvidos por Felipe Russo, Tuca Vieira, Cristiano Mascaro e Arnaldo Pappalardo, bem como busca compreender as múltiplas relações que se estabelecem entre fotografia, arquitetura, paisagem urbana e cidade.
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De bulerías a sevillanas Teoria e Prática do Flamenco
Centro de Pesquisa e Formação Sesc
25 a 28/4. Terça a sexta, das 14h30 às 17h30
O curso aborda o flamenco, sua formação, características e aplicações por meio de quatro vertentes: a história, o canto, o baile e a guitarra. Cada encontro é dedicado a uma das suas vertentes, detalhando seu conteúdo com demonstrações práticas e embasamento teórico.
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*Veja mais programações e detalhes sobre inscrições no Portal Sesc em São Paulo: sescsp.org.br