Postado em 10/11/2016
No mês da Consciência Negra, o projeto “Gritem-me Negra” ganha sua segunda edição. O Sesc Pompeia, em parceria com o Coletivo Empoderadas, traz a diversidade, visibilidade política e estética das mulheres negras em rodas de conversa, performances e vivências.
O recorte feminino no debate sobre o racismo é fundamental para o entendimento amplo da vida de maior parte das mulheres brasileiras. A filósofa, conferencista internacional, colunista e Secretária Adjunta da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Djamila Ribeiro, em entrevista ao Sesc Pompeia, explicou essa relação: “As mulheres negras tem maior vulnerabilidade, ocupam a base da pirâmide social, é o grupo que mais sofre violência doméstica, por exemplo. É impossível pensar em qualquer política sem levar em conta os recortes de raça, classe e gênero”.
Bianca Santana, professora da Faculdade Cásper Líbero e autora do livro “Quando me descobri negra”, explica que muitas vezes esquece-se que as mulheres têm especificidades, e conta-se uma única história, de perspectiva universalizante.
“É comum falar, por exemplo, que no passado todas as mulheres ficavam em casa, sem trabalhar. Essa é a história de um grupo de mulheres. Mulheres negras, pobres e imigrantes trabalham desde sempre. Este é apenas um exemplo para compreendermos a importância das questões específicas dos diferentes grupos de mulheres. Não para que estejamos separadas, mas para nos apoiarmos nas especificidades da luta por justiça e transformação social” explica.
Bianca enfatiza a importância de saber a própria história e a ancestralidade. Para ela, esse processo de se reconhecer acontece quando se começa a compartilhar as vivências pessoais com semelhantes: “Nos círculos de mulheres e círculos de mulheres negras, me reconheci em muitas das histórias que ouvi e percebi o quanto outras mulheres se reconheciam no que eu contava”.
A frase “nossos passos vêm de longe” - usada por Jurema Werneck no artigo "Nossos passos vêm de longe! Movimento de mulheres negras e estretégias políticas contra o seximo e o racismo." - se tornou um lema da resistência negra para entender os homens e mulheres do passado e, assim, criar uma perspectiva do presente e se empoderar. Para Djamila, o termo empoderamento nunca tem um sentido individual, mas sempre coletivo. “É o que torna possível criarmos uma consciência coletiva de que somos sujeitos de direitos” diz.
A experiência de debate e reconhecimento é parte fundamental do projeto “Gritem-me Negra!”. Durante todo o mês, temas como ancestralidade e racismo, a descoberta da negritude, feminismo negro e muitos outros, serão abordados na única forma possível, coletivamente.