Postado em 03/11/2016
Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do Sesc São Paulo
No início da década de 80, do século XX, com intuito de acompanhar a marcante transição demográfica mundial - o aumento da população entre 60 e 80 anos em todos os países – a Organização das Nações Unidas (ONU) conclamou a sociedade para discutir sobre as repercussões de tal conjuntura e contribuir com proposições de ações.
Com esse objetivo, a partir de 1982 iniciou-se uma série de encontros internacionais promovidos pela entidade. Em Madri, no ano de 2002, a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento resultou no Plano de Ação Internacional sobre o envelhecimento. Uma das principais orientações daquele documento foi o estabelecimento da diretriz “uma sociedade para todas as idades”, constituindo uma importante forma de pensar a inclusão do velho de maneira ampla.
Diante disso, e prestes a completar 15 anos do lançamento daquele documento, propomos outra perspectiva em face da conjuntura do envelhecimento da população mundial. Sabemos ser a velhice, tanto quanto a juventude e a infância, um conceito construído socialmente. Pesquisadores já revelaram como a valorização da infância foi resultado de um processo histórico desde a Idade Média até a Modernidade. Da mesma forma, a segunda metade do século XX testemunhou a criação da ideia de juventude.
A questão etária tornou-se fundamental em nossa sociedade. São aceitas com naturalidade as regras que determinam, por exemplo, que para estar sob a proteção do Estatuto do Idoso é necessário ter mais de 60 anos de idade; do Estatuto da Criança e do Adolescente no máximo 18 anos e que o Estatuto da Juventude ampara o jovem adulto até os 29 anos. Temos a vida fatiada!
O tempo é uma construção cultural como tantas outras e nossa sociedade foi organizada identificando-se com Kronos, que é muitas vezes representado por uma flecha movendo-se em sentido linear, sem volta. A referência do tempo quantificado, contabilizado identifica e marca a idade. A questão etária – e todas as implicações decorrentes – determina nossa forma de identificação e de relação com o outro.
Mas e se vivêssemos em uma sociedade sem idades? Situar o envelhecimento, a dinâmica da vida, como parte de um processo exige uma mudança de atitude. Atitude que nos levaria a olhar para nossa dimensão vital e não para a quantidade de anos acumulada. Como seria ou que parâmetros poderiam ser adotados para a proteção da vida de forma ampla, para o acolhimento e inclusão social efetiva de um indivíduo? Que sociedade teríamos se não nos apegássemos a “modelos” que determinam o comportamento adequado para cada faixa etária, a maneira de nos relacionarmos e de valorizar um indivíduo de acordo com sua data de nascimento?
Com essa visão, o Sesc tem procurado em suas últimas campanhas educativas - cujos temas relacionam-se de alguma forma com o envelhecimento - apontar para a importância em se estabelecer compromissos éticos pautados na alteridade e corresponsabilidade, por meio da participação social e do diálogo, e, assim, permitir que todos os indivíduos, independentemente de sua idade, ritmo, tempo, sintam-se respeitados e adotem posturas de comprometimento e cuidado com o outro, de tal modo que nossa sociedade passe a ser, de fato, uma sociedade para todos.