Postado em 26/08/2016
Um conjunto de cinco caminhos ajudou a estabelecer as origens e a expansão da cidade de São Paulo. O Sesc e o DPH - Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo desenvolveram, conjuntamente, 5 roteiros para percorrer o trecho urbano desses caminhos.
A EOnline conversou com Walter Pires, arquiteto e técnico do DPH, sobre como foi a pequisa e elaboração deste tema.
EOnline: Você pode nos contar como surgiu a idéia deste tema “Origens da Cidade” como norteador das atividades durante a Jornada do Patrimônio em 2016 ?
Walter Pires: As cidades surgem e se desenvolvem de diversas maneiras, por conta de necessidades vinculadas aos grupos sociais que escolheram um determinado território para se fixar. Formas, dimensões e características de cada cidade se modificam ao longo do tempo, sobrepondo espaços e significados sociais, culturais e simbólicos. Mas toda cidade tem que se adaptar a um determinado local geográfico/territorial: rios, praias, montanhas, vales, várzeas, matas, enfim, o meio natural vai sendo modificado, com maior ou menor integração.
No caso de São Paulo, sua origem como cidade, inicialmente um modesto povoado e vila criada pela ocupação portuguesa, é intensamente vinculada, de um lado, ao litoral e à cidade de Santos, seu porto tradicional; e, de outro, à exploração do interior, do “sertão”, visando a busca intensiva de metais preciosos, a consolidação do domínio europeu, ou a ocupação metódica resultante da agricultura (açúcar, café).
EOnline: Qual a importância desses antigos caminhos para a história de São Paulo? Quais eram estes trajetos principais?
Walter Pires: A partir dessa ideia norteadora – origem ou origens da cidade – naturalmente surgiu o tema dos antigos caminhos que foram conectando a pequena povoação de São Paulo ao litoral e a algumas regiões do interior de importância estratégica.
Lentamente esses caminhos – percorridos a pé ou por tropeiros - foram sendo abertos e consolidados pelos povoadores europeus, muitos deles com a apropriação do conhecimento e do traçado de antigos caminhos utilizados pelos povos indígenas, ao longo de séculos, os chamados peabirus.
Para os objetivos da Jornada e do Sesc, foram escolhidos cinco caminhos: o Caminho do Mar, ligação fundamental com o porto de Santos; a estrada que conduzia à região leste, ao aldeamento jesuítico de São Miguel e ao Vale do Paraíba e Rio de Janeiro; o Caminho do Guaré, que levava à região de Minas Gerais, cruzando a Serra da Cantareira; outro que, atravessando o rio Tietê, conduzia à mesma Serra e à área do Pico do Jaraguá, onde havia exploração de ouro no período colonial, prosseguindo para o interior; e, finalmente, a importante via que levava ao sul do país, via Pinheiros e Sorocaba, o conhecido Caminho das Tropas.
EOnline: O que ainda restou destes caminhos? Como podemos identificá-los? O que o público poderá encontrar de surpreendente nestes roteiros?
Walter Pires: Muitos desses caminhos tiveram variantes, atalhos, vias alternativas que eram utilizadas quando as várzeas dos rios paulistanos alagavam, ou quando os meios de transporte passaram a exigir melhores condições para circulação. Trechos desses caminhos foram sendo incorporados às vias públicas urbanas ou a estradas de rodagem. O objetivo da programação realizada em conjunto com o Sesc foi procurar mapear e criar roteiros que possibilitem reconstituir ou identificar alguns desses trechos.
Além do traçado dos próprios caminhos algumas referências que eram observadas pelos antigos caminhantes, ou serviam como balizas de localização, ainda podem ser reconhecidas hoje. Como a presença marcante da Serra da Cantareira e do Pico do Jaraguá, e da Serra do Mar; algumas colinas altas ao longo dos vales dos rios, como a Penha, a Freguesia do Ó, o Alto de Santana.
A travessia dos cursos d’água eram, também, importantes pontos de parada, pousos ao longo da jornada: o Riacho do Ipiranga, onde se deu o evento da Independência, em 1822. Ou a travessia do Tietê, na Freguesia do Ó, onde até hoje temos uma Rua da Balsa.
Muitos bens culturais que integram nosso patrimônio histórico situam-se próximos a esses antigos caminhos, como o conjunto das chamadas “casas bandeiristas”; o Largo e Obelisco da Memória, espaço referencial no centro paulistano; e, representando etapas posteriores de ocupação ao longo dessas estradas, o patrimônio ferroviário e industrial, tão próprio e importante para a expansão da cidade de São Paulo.
EOnline: Como a abordagem deste tema pode contribuir no presente para um reconhecimento e valorização dos bens culturais presentes em São Paulo?
Walter Pires: O conhecimento dos fatos do passado e de suas muitas e contraditórias versões, é fundamental para a constituição de identidades, para a compreensão de nossa presença como indivíduos ou como parte de distintos grupos sociais num meio complexo como a metrópole paulistana, e, com certeza, para que possamos escolher com cuidado como terá continuidade a apropriação do território onde vivemos.
Os valores que definem o chamado patrimônio cultural se constituem sempre a partir de determinadas construções sociais e culturais, que vão escolher dentre a inumerável quantidade de produtos materiais e bens imateriais e simbólicos, aqueles que representam essa multiplicidade. Tarefa complexa e sujeita a mudanças, conflitos e disputas. A compreensão e o estudo de nossas origens, como sociedade e como expressões materiais no espaço, é necessidade, obrigação e, não menos importante, prazer, que resulta da descoberta de histórias desconhecidas, intensas e referenciais.
Uma oportunidade para conhecer mais sobre as origens da cidade de São Paulo. Escolha qual será o seu caminho nesta Jornada e bom passeio!
Consulte aqui as outras atividades do Sesc na Jornada do Patrimônio.
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