Postado em 01/08/2016
Riqueza musical e cênica fazem da ópera um gênero que agrada a diversos públicos
Música, canto, dança, teatro. Por reunir diferentes elementos artísticos, a ópera é um gênero amplo, capaz de agradar a públicos distintos, e não apenas nas encenações tradicionais: no chamado “cinema de ópera”, por exemplo, montagens apresentadas em palcos tradicionais do mundo são exibidas na versão cinematográfica.
Na opinião do músico e educador do Centro de Música do Sesc Vila Mariana Zuza Gonçalves, mediador da mostra Ópera na Tela, que exibiu clássicos operísticos em julho na unidade, a versão cinematográfica não substitui a experiência direta, mas permite uma vivência interessante. Quanto à associação que existe no nosso imaginário entre ópera e prestígio social, o educador desmistifica: “Na verdade, o lugar que a ópera ocupou na vida cultural do Ocidente variou de acordo com a região e a época ao longo de seus 400 anos de história, desde a origem nos círculos aristocráticos da Florença dos anos 1600 até períodos de popularização em países europeus”. O importante, segundo Zuza, é perceber que, com as informações disponíveis hoje, é possível democratizar o acesso aos bens culturais. “A universalidade dessa música faz com que não tenhamos que ser experts para apreciá-la”, argumenta.
Para quem começa a entrar em contato com a ópera, é importante lembrar que não existe apenas uma ópera, explica a doutora em dramaturgia musical Ligiana Costa. “O repertório operístico tem séculos de história, então há uma variação muito grande de tipologias e possibilidades sonoras”, informa. “É um gênero muito amplo. Existem montagens históricas, com roupas de época, mas há diversas contemporâneas.”
Ligiana ressalta que o público não tem necessidade de conhecimentos prévios para assistir a uma ópera. “Claudio Monteverdi, considerado um dos grandes nomes da criação da ópera, falava que a função da música é ‘mover os afetos da alma’, ou seja, emocionar as pessoas”, diz a especialista. “Existe a possibilidade de ir a fundo, entender a ação dramática, a música, mas esse conhecimento não é pré-requisito. O conhecimento não é lugar de exclusão, mas sim de inclusão.”
De acordo com Zuza, ao entrar em contato com a ópera, é importante levar em conta o contexto da criação artística. “Naturalmente uma ópera composta na Veneza do século 19 possui elementos culturais e artísticos específicos dessa época, que só serão plenamente vivenciados por um veneziano que assistiu à estreia, enquanto outros elementos têm relação com a nossa identidade cultural até hoje e são capazes de mover nossa subjetividade, de nos tocar”, explica. “Além disso, a ópera foi fundamental no desenvolvimento da voz cantada, da música instrumental e da nossa maneira de contar histórias, e influencia diretamente a música, o cinema, a televisão e a cultura atual. Ver ópera é, portanto, uma forma de vivenciarmos e compreendermos melhor o que somos culturalmente.”
Programações de julho tiveram como tema o universo da ópera
Sesc Vila Mariana
Graças a uma parceria da Rede Sesc Nacional e da MultiRio, 130 unidades nacionais do Sesc poderão exibir, ao longo dos próximos dois anos, títulos que fazem parte do Festival Ópera na Tela, com versões cinematográficas de grandes montagens de clássicos operísticos da temporada europeia recente, tornando acessível a atualidade lírica mundial. No Sesc Vila Mariana, que durante o mês de julho recebeu alguns títulos, a programação contou com exibições gratuitas de A Noiva do Czar (foto), de Rimsky-Korsakov (dia 6), A Flauta Mágica, de Mozart (dia 13), O Barbeiro de Sevilha, de Rossini (dia 20), e La Traviata, de Verdi (dia 27).
Centro de Pesquisa e Formação
De 11 de julho a 3 de agosto, no curso do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, composto de oito encontros de três horas cada um, os alunos puderam ver em DVD e analisar, a partir de elementos históricos, dramatúrgicos e musicais, uma ópera por dia, partindo de Orfeo, de Claudio Monteverdi, e chegando a La Bohème, de Puccini. O curso foi ministrado por Ligiana Costa, doutora em dramaturgia musical pelas universidades de Tours (França) e Milão (Itália), e que atualmente faz pós-doc na Universidade de São Paulo sobre o tema.