Postado em 02/06/2016
Imagine você agora, em uma casinha de varanda ampla, cercada de verde e sentindo um cherinho de café fresco, feito no fogão à lenha.
Se houvesse uma música nessa cena, qual seria? Provavelmente, a toada de uma viola.
Em junho, o Sesc Taubaté apresenta uma programação especial dedicada à apreciação da viola caipira, com shows de violeiros nascidos em quatro estados diferentes do país. As apresentações do projeto Territórios da Viola serão acompanhadas de uma boa prosa com o também violeiro e historiador Claudio Lacerda. Com três discos lançados, o descendente de mineiros que mantém uma conexão profunda com a música regional, vai levantarar histórias, afinações, influências e características peculiares do instrumento em São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Confira nossa prosa com o violeiro.
Eonline: Para começar, nos conte um pouco da história da viola em sua vida.
Cláudio Lacerda: A viola caipira é um instrumento encantador para aqueles que como eu, amam a terra. Ela carrega toda uma cultura do campo pra dentro da gente. É como se aquele som trouxesse junto os aromas, as histórias de um tempo que a gente nem viveu, mas que sabemos que era bom. Hoje vivemos nas cidades, mas a natureza do homem é campesina.
Eonline: O projeto Territórios da Viola apresenta músicos de São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Podemos dizer que estes estados são os mais representativos na tradição da viola caipira?
Cláudio Lacerda: São sim, entre outros, como Goiás, Mato Grosso do Sul e uma parte do Paraná e do Espírito Santo. Na verdade todos esses estados estão na área de aculturamento e exploração dos Bandeirantes, que é conhecida como "Paulistânia". A viola caipira entrou e se fixou nos sertões brasileiros através das bandeiras paulistas. Com ela muitos outros costumes também, como a culinária, e danças folclóricas.
Eonline: Um dos assuntos abordados nas conversas e apresentações serão as afinações. Quais são as afinações mais comuns e suas características?
Cláudio Lacerda: Existem quase 30 afinações para a viola caipira, creio eu. É uma coisa muito regional e particular de cada violeiro. É mais bonito tocar uma música no tom da viola, por isso conforme a música o violeiro troca de instrumento. As mais conhecidas são a Cebolão (em Ré ou Mi), e a Rio Abaixo (em Sol)
Eonline: A cultura caipira é uma das características mais representativas da região valeparaibana. Você poderia citar algumas peculiaridades criativas dos violeiros de nossa região?
Cláudio Lacerda: O Vale do Paraíba sempre foi muito fértil culturalmente. Na música caipira gerou compositores da mais alta estirpe, como Elpídio dos Santos, Lourival dos Santos e Anacleto Rosas Jr., que apesar de não ter nascido no Vale, o adotou. Tive o prazer de conhecer alguns violeiros da região, como João Carreiro e Mantovani, Beira Rio e Du Vale, em um projeto maravilhoso no Sesc Taubaté. O Vale é muito bonito, a Mantiqueira é maravilhosa, e sempre inspirou seus compositores à uma descrição contemplativa dessa natureza exuberante e generosa. Acho que são as canções que mais me encantam...
Eonline: Você vê uma renovação de público acompanhando os violeiros contemporâneos?
Cláudio Lacerda: Vejo sim. A música caipira tem amantes e seguidores muito fiéis, e não apenas gente de idade. São pessoas que reconhecem nela a sua verdadeira cultura, o que é a absoluta verdade. Nas grandes cidades ainda é comum ouvirmos falar do caipira de maneira jocosa, mas no interior vemos que é motivo de orgulho. As orquestras de violeiros são verdadeiros polos de difusão da cultura caipira. É a música, o causo, a comida. O turismo rural tem tido muito sucesso por exemplo, servindo comida caipira, valorizando o modo de vida que se tinha no campo. A viola tem parte importante nesse universo
Eonline: De uma forma geral, que marcas as novas gerações de violeiros estão deixando produção da música regional na atualidade?
Cláudio Lacerda: As marcas podem não ser profundas por questões midiáticas, mas a identidade com a música caipira e a continuidade no trabalho de valorização dessa cultura, creio que sejam os pontos de maior importância dos cantadores e violeiros como os que vão participar do projeto "Territórios da viola".
Eonline: Você estará presente nas quatro apresentações do mês. O que você tem a dizer sobre Rodrigo Zanc, João Ormond, Luiz Salgado e Yassir Chediak?
Cláudio Lacerda: Cada um tem a sua personalidade musical, e bem distintas por sinal. Sou muito amigo de todos eles, e o que posso dizer é que os taubateanos que gostam de viola caipira tem muita sorte! Poderão curtir belíssimos shows! São 4 violeiros talentosíssimos com sotaques diferentes, mas com o mesmo amor à cultura campesina. Esperamos vocês!
o que: | Territórios da Viola |
quando: |
Junho/2016 |
onde: |
Sesc Taubaté Av Engenheiro Milton de Alvarenga Peixoto, 1264 | 12 3634-4000 |
quanto: | Grátis |