Sesc SP

postado em 06/03/2013

Verbetes cinematográficos

Tácito de Sousa como Peri em <i>O guarani</i> (1916), de Vittorio Capellaro.
Tácito de Sousa como Peri em O guarani (1916), de Vittorio Capellaro.

      


Terceira edição ampliada e atualizada da Enciclopédia do cinema brasileiro trata de temas e de nomes ligados à sétima arte no país

 

Editada pela primeira vez no final da década de 1990, a Enciclopédia do cinema brasileiro foi concebida com o intuito de preencher uma lacuna: a falta de livros de referência sobre a produção cinematográfica do Brasil. Naquela ocasião, os organizadores da obra – Fernão Pessoa Ramos (professor do Departamento de Cinema da Unicamp) e Luis Felipe Miranda (pesquisador do Arquivo Histórico Municipal e autor do Dicionário de cineastas brasileiros) – coordenaram o trabalho de quase cinquenta autores e editaram mais de setecentos verbetes, que apresentavam diferentes perspectivas sobre temas e personalidades.

Mais de uma década depois, a dupla de organizadores se lançou ao desafio de revisar a enciclopédia e atualizá-la, inserindo-lhe novos verbetes e filmes produzidos ao longo da primeira década do século XXI. Eles reuniram os autores da primeira edição, convidaram outros pesquisadores a integrar o time e fizeram um estudo dos assuntos pertinentes que deveriam ser acrescentados. O resultado é a terceira edição, ampliada e atualizada, da Enciclopédia do cinema brasileiro, que a Editora Senac São Paulo e as Edições Sesc São Paulo põem à disposição dos leitores, a fim de contribuir para o estudo da sétima arte produzida entre nós.

A nova edição manteve o eixo central, dividido entre verbetes temáticos e verbetes de personalidades. Essa estrutura permite que cineastas ou atores sejam abordados extensamente dentro de temas diversos, mesmo que não tenham seu próprio verbete. Os verbetes temáticos cobrem períodos, instituições e movimentos significativos do cinema brasileiro, como cinema novo, chanchada, pornochanchada, documentário, cinema marginal, ciclos regionais, festivais, revistas, cinematecas, cineclubes, Embrafilme, INCE etc.; retratam os Estados com produção considerável (Bahia, Rio Grande do Sul, Amazonas, Paraná, Minas Gerais...); e abordam produtoras como a Cinédia, a Brasil Vita Filmes, a Atlântida, a Vera Cruz e a Saga Filmes, dentre outras. Há também um grupo de verbetes ligados a determinadas funções (fotografia, cenografia, roteiro...) e aqueles que exploram temas diversos em sua relação específica com o cinema brasileiro, como livros, laboratórios, teatro, cantores-atores etc.

O verbete “literatura”, por exemplo, apresenta o caudaloso percurso percorrido pelas adaptações de obras literárias, que começa com o lançamento de A cabana do pai Tomás, em 1909, baseado no best-seller de Harriet Beecher Stowe sobre a abolição da escravatura nos Estados Unidos, e chega até Quincas Berro d’Água (2009), de Sérgio Machado, adaptado da novela de Jorge Amado, e Nosso lar (2010), de Wagner Assis, baseado no livro homônimo de Chico Xavier.

Já o extenso verbete “trilha musical” discute a relação entre som e imagem, identificando também os casos de sucesso de compositores cujas trilhas deram aos filmes maior força de expressão, como Radamés Gnattalli e Heckel Tavares (Ganga bruta, 1933), Lyrio Panicali (Maior que o ódio, 1950), Egberto Gismonti (Lição de amor, 1975) e Philip Glass (Jenipapo, 1996).  

Os verbetes de personalidades – cujo campo onomástico vai do pioneiro diretor do cinema gaúcho na década de 1920 Eduardo Abelim à diretora de arte e figurinista Yurika Yamasaki (irmã de Tizuka)  – foram selecionados a partir da combinação de critérios quantitativos e qualitativos. O primeiro critério levou em consideração a extensão da obra de cineastas e atores. Assim, um diretor com trinta longas-metragens faz jus a um verbete, independentemente da repercussão de sua obra. Esse recorte implicou uma representação significativa – embora polêmica, segundo os próprios organizadores afirmam – da produção realizada na Boca do Lixo, por exemplo. Já o critério qualitativo procurou dar ênfase a cineastas e atores com obras de peso, ainda que exíguas ou bissextas.

O objetivo de uma obra de tal envergadura é retratar as principais figuras do cinema brasileiro e identificar as temáticas essenciais que surgem no cotidiano da crítica e da pesquisa cinematográfica.

Ao final da publicação, o leitor poderá encontrar ainda uma alentada seleção de imagens, que reúne, sobretudo, fotos de cena e de bastidores da atividade cinematográfica no país. O destaque fica para as raras fotografias que mostram musas pioneiras como Aurora Fúlgida, Eva Nil e Carmen Santos.   

O cinema, como arte narrativa, atravessou de modo fulgurante o século XX e adentrou o século XXI, mostrando um renovado dinamismo. No caso específico do cinema brasileiro, novos cineastas vêm surgindo sistematicamente nos últimos anos, destacando-se ainda atores e atrizes que brilham nas telas e uma gama de profissionais que contribuem para o desenvolvimento artístico e técnico do setor. O resultado desse mercado potencial pode ser notado nos diversos filmes, feitos com altos ou baixos orçamentos, que ultrapassaram a marca de um milhão de espectadores.

Deste modo, a Enciclopédia do cinema brasileiro representa o inédito esforço de um grupo de pesquisadores para sintetizar, em uma obra de fácil consulta, o estudo e a reflexão sobre o nosso cinema a partir de um ponto de vista moderno e contemporâneo. Ao mesmo tempo, a publicação incentiva pesquisas, contribui para a capacitação profissional, incrementa a formação de plateias e divulga novos modos de apropriação do fazer cinematográfico.

A Enciclopédia do cinema brasileiro é uma conquista editorial muito importante, e seu impacto surtirá efeito, sobretudo, no terreno da história cultural no país. Em termos de preservação da memória, a obra celebra a grande contribuição que os organizadores e pesquisadores aqui reunidos estão proporcionando a uma arte já longeva. No âmbito editorial, ela mostra o firme propósito de apresentar ao leitor um vastíssimo conjunto de informações e conceitos organizados com sensibilidade e inteligência.

 

Veja também:

:: Trechos do livro

 

 

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