Amor ao teatro: Sábato Magaldi
Com mais de mil páginas, Amor ao Teatro apresenta aos leitores a formação da moderna crítica teatral no Brasil, com 783 textos escritos entre 1966 e 1988
Considerado um dos maiores críticos do teatro brasileiro, o jornalista, professor, teatrólogo, ensaísta e historiador mineiro Sábato Magaldi lança, pelo novo selo das Edições Sesc SP, Coleção Sesc de Críticas, o livro Amor ao teatro: Sábato Magaldi, no dia 24 de março, às 19h, no Teatro Anchieta do Sesc Consolação. A obra é um compêndio em 1224 páginas de 783 críticas teatrais do autor publicadas nos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, entre 1966 e 1988. A pesquisa, seleção e organização da obra ficaram a cargo da companheira de teatro e esposa, Edla Van Steen, que, com a assessoria de José Eduardo Vendramini, teve a competência de coletar todo o material muitas vezes indisponível no formato digital.
O livro inclui críticas às obras dirigidas por nomes seminais do teatro brasileiro, algumas figuras históricas como Antunes Filho, Antônio Abujamra e Zé Celso, passando por artistas importantes, como Dercy Gonçalves, Fernando Torres e Gianni Ratto, e os contemporâneos Gerald Thomas, Miguel Falabella e Wolf Maia, recontando toda a história do teatro brasileiro amalgamada com a história do país, dos anos de chumbo à abertura democrática.
“Causava espanto aos seus admiradores a constância de Sábato no ofício de ver e pensar o teatro nacional e internacional com acuidade analítica, generosidade não isenta de rigor e clareza de escrita. Somos todos seus devedores, artistas, alunos de várias gerações e discípulos de crítica. O volume agora publicado mostra pedagogicamente, pode-se dizer, o processo que leva um intelectual à condição de Mestre.”
Jefferson Del Rios
A função primária da crítica teatral é discernir e analisar de forma objetiva e aprofundada a peça em questão tanto para o público quanto para a classe artística. Por meio dessa observação do objeto analisado o crítico decodifica conceitos, instiga a curiosidade e pereniza o efêmero. Concede às produções um ar mais próximo da profissionalização como ferramenta para que os paradigmas não se acomodem e sejam transpostos, além de chancelar as vanguardas teatrais. O crítico colabora com a evolução e a construção do teatro, tanto direta ou indiretamente, tanto na teoria quanto na prática.
A organizadora do livro, a escritora gaúcha Edla Van Steen parecia prever a produção de Amor ao teatro, pois, em 1982, presenteou o marido com a cópia de tudo o que ele havia escrito até então e que a Biblioteca Mário de Andrade dispunha em microfilme. Em alguns casos, os textos publicados foram fotografados, como os do período de 1982 a 1988, para que não fossem perdidas as colaborações para o extinto Jornal da Tarde, cujo arquivo não está digitalizado. As críticas de dança, espetáculos estrangeiros, entrevistas, matérias especiais e artigos sobre outros assuntos ainda serão reunidos em nova publicação.
No livro, encontram-se compilações de críticas teatrais das maiores obras do teatro brasileiro, como o caso de O rei da vela, de Oswald de Andrade, dirigida por Zé Celso e com figurino de Hélio Eichbauer; o crítico traz ao leitor não somente seu parecer como profissional do gênero cênico, mas elabora um relato que retrata sua experiência como espectador acima de tudo, como um homem comum; característica que traz cada vez mais vivacidade e faz justiça ao nome dado ao livro. De Augusto Boal, amigo de Sábato - é sabido que foi a seu convite que o dramaturgo voltou de fora do país para dirigir o Teatro de Arena de São Paulo-, há críticas das peças Inspetor geral (1966), A moschetta (1967), A comédia atômica (1969), Zumbi (1969), O aniversário da mãe (1980) e La malasangre (1987), mostrando a importância do Teatro de Arena na revolução estética proposta pelo grupo e os alicerces da famosa metodologia que Boal viria a desenvolver mais tarde, o Teatro do Oprimido.
Sábato retratou o teatro brasileiro com suas análises fundamentadas e precisas e, de uma forma ou de outra, contribuiu diretamente com a evolução do teatro. É o que se pode observar em sua crítica ao espetáculo Comigo me desavim, da cantora Maria Bethânia, dirigida por Fauzi Arap, e estrelada no Teatro Ruth Escobar, em 1968. Nela, Sábato Magaldi demonstra a faceta minuciosa do crítico, quando mesmo depois de todos os elogios feitos à cantora tratando-a como ”a primeira one-woman-show brasileira da estirpe de Marlene Dietrich e Judy Garland”, e ao diretor, não deixa de fora uma análise negativa feita à regulagem imperfeita do amplificador e a escassez do sistema de iluminação utilizado. Basta ao leitor se enveredar pelas páginas da obra para notar o estilo direto, sincero e verdadeiro que o autor aborda e analisa uma montagem.
SOBRE A COLEÇÃO SESC DE CRÍTICAS
O Sesc São Paulo reconhece na função do crítico sua relevância na formação de públicos e na reflexão do papel da arte na sociedade. Vê em seu trabalho um modo de fixar e apontar para a história para que possamos enxergar o que há de repetições travestidas de inovações e o que há de real inovação nos meios artísticos. A criação da Coleção Sesc de Críticas será composta por títulos voltados à divulgação de reflexões acerca das expressões artísticas desenvolvidas pela instituição em suas ações programáticas e, a posteriori, de críticas que abracem os âmbitos sociais, econômicos, educativos, dentre outros.
SERVIÇOS
o que: | |
onde: |
Teatro Anchieta - Sesc Consolação |
quando: |
24/03. Terça-feira, às 19h30 |
quanto: |
Grátis. Na ocasião haverá sessão de autógrafos com a organizadora do livro, Edla Van Steen. |
Veja também:
:: Resenha | Visão privilegiada - Por Maria Eugênia de Menezes
:: Trechos do livro | Clique na imagem para ampliá-la. Após a leitura, pressione a tecla ESC para retornar ao site.