Sesc SP

postado em 06/02/2013

Convivência e respeito intergeracional

coeducação nova2

      


A necessidade de rever as formas de se relacionar em face ao gradativo envelhecimento da população mundial

Por Juliana Gardim*

 

Para se debruçar sobre a questão da coeducação entre gerações e seus consequentes conflitos é necessário retomar a linha de como alguns conceitos preestabelecidos chegaram ao século XXI.

Produto da civilização ocidental, a divisão das fases de vida dos indivíduos em infância, adolescência, idade adulta e velhice acabou por segmentar, também, áreas de convivência e de interesse para cada faixa etária. Cabe ressaltar que até meados do século XX, a divisão em gerações era mais direcionada a partir do seio familiar, ou seja, as gerações eram contadas de pai para filho e chegavam a ter 25 anos de diferença entre uma e outra. Todavia, com o gradativo envelhecimento da população mundial, faz-se necessário rever preconceitos e formas de se lidar com a convivência intergeracional. Hoje, fala-se em somente dez anos de diferença entre uma geração e outra, o que significa encontrar pessoas de diversas gerações convivendo, inclusive no mercado de trabalho.

Um dos teóricos que José Carlos Ferrigno cita no livro Coeducação entre gerações, Philippe Áries, destaca que: “Na idade média, no início dos tempos modernos, e por muito tempo ainda nas classes populares, as crianças misturavam-se com os adultos assim que eram consideradas capazes de dispensar a ajuda das mães ou das amas, [...] aproximadamente aos sete anos de idade. [...] De criancinha pequena, ela se transformava imediatamente em homem jovem”. Dessa maneira, mesmo havendo uma divisão, a vida cotidiana entre as diversas faixas etárias era totalmente partilhada.

Na sociedade atual, com os papéis bem definidos desde muito cedo, a criança vai se desenvolvendo em ambientes extremamente segmentados; muitas vezes, o único lugar em que vai conviver com outras gerações é no âmbito familiar. Nesse modelo social, o adulto ganha o papel de destaque, pois esse sujeito encontra-se em sua fase áurea tanto física como intelectual e social, relegando os outros a uma posição marginal: a criança, o adolescente e o velho não possuem presente, somente passado ou futuro. “Para as crianças se pergunta: o que você vai ser ou fazer? Enquanto para os velhos se pergunta: o que você foi ou fez?”, explica Paulo de Salles Oliveira.

Em Coeducação entre gerações, José Carlos Ferrigno distancia-se do universo familiar, prefere considerar o idoso como um adulto velho e parte do princípio que ao entrar na velhice os papéis sociais do indivíduo começam a rarear, para então estudar a interação entre gerações distintas no âmbito do lazer e do convívio social. Entendendo este ambiente como o de troca entre os indivíduos de interesses, necessidades e objetivos convergentes, mesmo fora de uma afinidade etária.

A obra parte de uma pesquisa realizada no Sesc São Paulo, em que Ferrigno observou e entrevistou frequentadores e educadores de idades distintas, avaliando criticamente os intercâmbios entre essas diversas gerações e sua representação.

A maioria dos idosos entrevistados fundamenta suas falas na grande diferença existente entre a educação que receberam e a que tem o jovem das últimas décadas do século XX. A figura da pessoa mais velha – seja pai, avós, tios – era vista como uma autoridade e quase nunca era personagem de um mesmo diálogo. De certa forma, isso provoca(va) um maior distanciamento nas relações entre velhos e jovens. A mudança de regras sociais na juventude atual começou a possibilitar esse reencontro, inclusive no lazer, desde que situações de convívio sejam de alguma forma provocadas, pressupondo-se que os conflitos podem surgir porque: “Todavia, pertencer à mesma geração determina certos pensamentos e comportamentos. [...] Ao mesmo tempo, grupos de jovens e velhos experimentam os mesmos acontecimentos em uma sociedade, mas os efeitos desses eventos serão diferentes, dependendo se forem vivenciados pela primeira vez ou dentro de um quadro já formado de experiências semelhantes.”

É a partir dessa aproximação de gerações distintas que Coeducação entre gerações analisa as vozes que surgem quando há interação e principalmente quando as idades, de alunos idosos, adultos jovens no papel de professores e até adolescentes se complementam em um ambiente de troca e confluem em projetos, ensaios, compromissos e amizades.

 

*Juliana Gardim é jornalista, pós-graduada em jornalismo cultural
 e produtora editorial das Edições Sesc São Paulo.

Produtos relacionados