Sesc SP

postado em 10/05/2013

Por trás dos bastidores

Guia brasileiro de produção cultu

      


Chegando a sua sétima edição, o Guia brasileiro de produção cultural 2013-2014 reúne tudo o que é preciso saber para criar e administrar projetos na área da cultura

No decorrer dos últimos vinte anos, o terreno da produção cultural no Brasil mudou muito. Sem perder o vínculo com a experimentação e a ousadia, o mercado da cultura nacional conta hoje com profissionais especializados em gestão, planejamento estratégico, logística e marketing que conferem aos projetos que desenvolvem a segurança e a expertise necessárias a todo bom empreendimento.

No início do século XXI, o Brasil parece ter encontrado seu eixo econômico, atraindo o interesse de inúmeros empresários também da área da cultura, do lazer e do entretenimento. O aumento expressivo de pequenas e médias produtoras culturais, de organizações sem fins lucrativos e de grandes corporações devotadas à cultura é uma realidade auspiciosa, que movimenta cifras astronômicas, gera empregos – direta e indiretamente – e ainda alimenta uma complexa engrenagem produtiva voltada, sobretudo, aos ambientes da arte, da educação e da inclusão social. Foi-se o tempo em que uma iniciativa na área da cultura implicava boa dose de quixotismo. 

No início da década de 1990, o músico e jornalista Edson Natale, após produzir dois LPs independentes com o grupo Dharana, do qual fazia parte, começou a ser questionado por outros colegas do meio musical a respeito de o que era preciso fazer para produzir um disco no Brasil. As perguntas mais frequentes dirigidas a ele naquela época pré-internet diziam respeito a como tocar em outros países, com quem reclamar se a prensagem do LP não ficasse boa, o que era preciso fazer para registrar uma música, como registrar o nome de uma banda. Essas e muitas outras indagações levaram Edson à ideia de escrever um livro que orientasse artistas novos e/ou inexperientes sobre os meandros da indústria e do mercado de música popular no Brasil. Nascia, assim, o Guia da produção musical 1994-1996, lançado também de forma independente (com a negociação na gráfica de sessenta dias para o pagamento).

Após a distribuição e a venda dos 1.800 exemplares que foram impressos, Edson começou a se surpreender com a quantidade de convites para proferir palestras por todo o Brasil sobre as orientações dadas no guia. Brasília, Belo Horizonte, Goiânia e o interior de São Paulo foram os primeiros lugares em que ele conheceu artistas e produtores com as mesmas angústias, dificuldades, dúvidas... Cartas também começaram a chegar e elas mostravam que criadores de outras áreas que não só a música (atores, fotógrafos, cineastas, artistas plásticos...) também necessitavam de orientação. Edson, então, percebeu que não somente temas específicos como direitos autorais e planejamento administrativo-financeiro, mas também informações gerais como endereços de teatros, auditórios, estúdios, fundações e secretarias de cultura constituíam a necessidade de todo um segmento carente de esclarecimentos. Esses foram os motivos que levaram a publicação, a partir de 1999, a ser batizada de Guia brasileiro de produção cultural, que chega agora à sétima edição. Vale destacar que, desde 2004, o guia passou a ser organizado em parceria com a advogada Cristiane Olivieri, especializada em gestão de processos comunicacionais e culturais e mestre em política cultural, ambos os títulos obtidos na ECA-USP.

Contando com um time de consultores e entrevistados de peso (que ao todo somam 31 nomes), o Guia brasileiro de produção cultural 2013-2014, lançado pelas Edições Sesc São Paulo, pretende contribuir para o esclarecimento das áreas da cultura e do entretenimento, que adquirem, a cada dia, mais importância no cenário sociocultural, impactando profundamente também a economia do país. Dividido em nove capítulos e entremeado por entrevistas e depoimentos, o guia reúne informações preciosas destinadas a todos aqueles que pretendem se dedicar à produção cultural e esclarece dúvidas aos que nela já atuam.

O capítulo de abertura – “Planejamento” – ensina a atribuir quatro dimensões aos projetos culturais: a econômica (que trata do plano material, composto por recursos físicos, financeiros e tecnológicos), a filosófica (que deve responder à pergunta: quais são as verdadeiras causas conceituais do projeto?), a potencial (que avalia a capacidade de uma equipe para levar o projeto adiante) e a causal (que precisa identificar claramente a quem se destina a iniciativa). Após fornecer um amplo espectro de informações, o capítulo termina de forma bem-humorada, lembrando que em gestão cultural é preciso driblar a todo momento, com competência, organização e criatividade, a famosa lei de Murphy.

O segundo capítulo – “Economia criativa” – recupera o conceito desenvolvido pelo economista inglês John Howkins em 2001, que se aplica à arquitetura, ao artesanato, às artes performáticas, ao cinema, ao design, às galerias, à indústria editorial, ao mercado de artes, à moda, aos museus, à música, à publicidade, à rádio, aos softwares e à TV. Além de discutir a natureza dessas atividades criativas, o capítulo analisa o impacto econômico causado por elas e trata dos desafios para transformar a criatividade brasileira em renda de exportação, alertando para o risco de as potencialidades internas do país acabarem se transformando meramente em jargão publicitário.

Os sete capítulos seguintes tratam, respectivamente, de questões jurídicas, direito de autor, instituições culturais, questões financeiras, projetos e financiamentos à cultura, comunicação e produção. Fazendo a ligação entre eles, entrevistas especialmente realizadas merecem um destaque especial nesta edição do guia. Do ativista afegão Rameen Javid, que mantém uma galeria de arte em Cabul, ao antropólogo Felipe Lindoso, um estudioso do mercado editorial e das políticas públicas para o livro no Brasil, inúmeros são os profissionais da cultura que têm muito a dizer. Por fim, o livro ainda reúne o depoimento de artistas, jornalistas e produtores, como Bete Coelho, Dody Sirena, Sérgio d’Antino e Zeca Baleiro, dentre inúmeras outras personalidades, convidados a avaliar o processo de profissionalização pelo qual passa o setor. 

 

Veja também:

:: Trechos do livro

 

 

 

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